Sou cinéfilo e costumo rever os meus cults cinematográficos a cada par de anos. Quando explode a vingança, do Sergio Leone, é um que já devo ter assistido umas 20 vezes, de 1971 para cá.
Mas, quando o filme é previsível e deprimente, nenhum circuito programa sucessivas reprises, nem os programadores das tevês o botam no ar a toda hora.
Bem diferente do espetáculo ora em cartaz, pela enésima vez, no Oriente Médio. É intragável mas, periodicamente, enfiam-no de novo pela nossa goela adentro.
De um lado, grupos radicais dos países árabes cutucam a onça com vara curta, geralmente causando poucos danos.
Do outro, os israelenses reagem com furor desmedido, extrapolando em muito a dimensão do fato que deu pretexto à matança. Lembram os nazistas em países ocupados: se um soldado alemão era morto pelos partisans, os nazis agarravam a esmo dezenas de moradores do bairro e os executavam bestialmente, como forma de intimidação.
Os irresponsáveis que atraem represálias contra idosos, mulheres e crianças não se comportam como combatentes do povo, são covardes e vis; e Israel é, simplesmente, o IV Reich, repetindo hoje o que seus carrascos do século passado faziam de pior. Ambos merecem o nosso mais profundo desprezo.
NADA justifica isto!!! |
O resultado é sempre o mesmo: morre muita gente inocente e nunca se chega a lugar nenhum.
Se o objetivo é derrotar Israel, tais radicais têm de, primeiramente, escorraçar os tiranetes feudais que não ousam armar seus povos por medo de que as armas se voltem contra eles. Enquanto essa corja se mantiver no poder, jamais haverá verdadeira guerra santa unindo todos os povos árabes contra seu opressor comum. Resumindo: as revoluções têm de vir primeiro, para a cruzada contra Israel poder dar certo depois.
Desunidos, eles não têm poderio bélico suficiente para vencerem o hiper, super, ultramilitarizado estado neonazista (que, como os gays de antigamente, não ousa dizer seu nome, mas a estrela de Davi há muito deveria ter sido substituída pela suástica...).
Outro pequeno detalhe: se um dia Israel estiver ameaçado de sofrer a derrota final, os EUA inevitavelmente intervirão em seu socorro. Então, há um ogro maior ainda escondido atrás do ogro que até agora vem surrando os árabes periodica e impiedosamente. Isto deveria ser sempre levado em conta, mas não é.
Sem fibra para fazerem o que é certo, só que bem mais difícil, os radicais investem em provocações à distância, acreditando que as imagens dantescas dos morticínios delas decorrentes provoquem indignação suficiente para forçar uma guerra santa. Negativo. Os tiranetes fingem e continuarão fingindo que não é com eles.
É como tentar fazer um carro pegar no tranco, quando a bateria está falhando. Neste caso, não dá certo. Talvez porque as reações dos humanos não sejam exatamente mecânicas...
* jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com