Na análise que fiz sobre o 2º turno da eleição paulistana (ver aqui), pensei em incluir um alerta ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recomendando que reforçasse sua segurança.
A vitória de Fernando Haddad, aposta temerária de Lula que deu certo, praticamente afastou qualquer possibilidade de não ser ele o candidato do PT à eleição presidencial de 2014, com enorme chance de conquistar o terceiro mandato.
Ora, há direitistas dispostos a tudo para quebrarem o círculo virtuoso do lulismo.
As analogias históricas não podem ser descartadas, pois as repetições das tragédias ocorrem amiúde --e nem sempre como farsas.
Em 1945, as forças retrógradas pensaram que bastaria uma pequena ajuda estadunidense para se livrarem de Getúlio Vargas, a pretexto da supressão de uma ditadura semelhante às derrotadas nos campos de batalha da II Guerra Mundial.
O objetivo imediato foi conseguido, com o pressionado Vargas abdicando do poder e de concorrer à eleição presidencial imediata. Contudo, ele apoiou o poste Eurico Gaspar Dutra, fazendo com que fosse eleito; depois, sucedeu-o pela via democrática.
Desde setembro a "veja" tudo faz para que seja aceita a barganha a delação
Os reaças contra-atacaram com a articulação (capitaneada pela UDN) para forçar o seu impeachment, por corrupção, em 1954.
Se tal cartada também tivesse falhado, qual seria o passo seguinte? Sabe-se lá. O certo é que quem vai tão longe, não volta atrás; joga cada vez mais pesado.
O lulismo já está no terceiro mandato presidencial e a conquista do quarto parece ser favas contadas. O escândalo do mensalão não produziu o mesmo resultado do mar de lama, assim como o Cansei! não conseguira bisar a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade.
Então, minha sensibilidade política, no próprio domingo da eleição, era de que alguma ação mais contundente seria tentada pela direita, já que nas urnas ficou bem difícil barrar Lula. Mas, como muita gente confunde reflexão com torcida, acabei deixando pra lá. Estou cansado de ser mal interpretado.
A notícia d'O Estado de S. Paulo, de que o condenado Marcos Valério Fernandes de Souza oferece-se para incriminar Lula em troca de uma vaguinha no programa federal de proteção à testemunha (o que o livraria do xilindró), mostra uma alternativa à opção Kennedy, com a vantagem de não deixar para trás perguntas que não querem calar.
Seria baterem de novo na tecla mar de lama, só que agora com pata de elefante, envolvendo Lula inclusive na morte de um ex-prefeito de Santo André, o arquivo queimado Celso Daniel.
Vamos ver o que decidirão o procurador-geral da República e o Supremo Tribunal Federal. Pode-se depreender que a proposta indecente do traira tendia a não ser aceita, daí terem-na vazado para a imprensa, visando constranger Roberto Gurgel e o STF. Já há ministros do Supremo admitindo que Valério seja protegido.
O certo é que Lula tem um caminho pedregoso pela frente, até a eleição de 2014. Se ainda usasse barbas, deveria botá-las de molho...
* jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com