O bordão do locutor esportivo Sílvio Luiz cai como uma luva neste momento em que o eleitorado paulistano se mostra propenso a repetir a bobagem que fez elegendo Jânio Quadros prefeito e votando maciçamente nele para governador e presidente; assim como quando votou maciçamente em Fernando Collor para presidente.
Foram outras candidaturas de aparentes outsiders, cuja filiação a partidos nanicos ajudou a criar a ilusão de que marchavam contra a corrente, dispostos a confrontar as elites políticas que o eleitorado não suportava mais.
Ledo engano. A podridão foi a mesma, acrescida de turbulências causadas pela insuficiência dos seus esquemas de sustentação.
O primeiro perdia votações importantes no Congresso e tentou virar a mesa, mas sua tentativa amadoresca de golpe de estado não só deu com os burros n'água, como colocou o país na direção de uma longa ditadura.
Quanto ao Collor, acabou defenestrado porque, mesmo tendo as forças dominantes no parlamento contra si, cometeu erros primários como o de manter um tesoureiro que deixava as digitais impressas em todas as ilegalidades.
O que se poderá esperar caso a principal cidade do país caia nas garras de um partido fantasmagórico chamado PRB, cavalo de tróia dos mais vorazes exploradores da fé? Que o mensalão vire dizimão?
Pior: o tal PRB está menos na linha do PDC de Jânio, pequeno porém decente, e mais na do PRN de Collor, que foi um típico partido gazua para arrombar os cofres públicos.
Celso Russomanno tem outra semelhança marcante com Collor: antes de vestir a pele de cordeiro, fez parte das piores alcatéias.
No caso de Collor, a Arena --partido que dizia amém às atrocidades da ditadura militar.
No caso de Russomanno, o PFL --para o qual migraram os arenosos que queriam perpetuar-se no poder em plena redemocratização.
O primeiro posava de caçador de marajás, o que fez da bela canção do Milton Nascimento, "Caçador de mim", uma piada pronta.
O segundo se beneficia da candura de eleitores gratos pela existência de espaços para a defesa do consumidor na TV e incapazes de perceber que o mérito não é do apresentador. Trata-se do mesmo tipo de gente que hostiliza vilãos de telenovela quando os encontra na rua.
Depois de passar pelo PFL, PSDB, PPB e PP, Russomanno viu a luz: melhor do que ser mero coadjuvante nos grandes partidos ou ter como padrinho um Paulo Maluf já descendo a ladeira é pedir a benção a Edir Macedo, garantindo, de cara, os votos de um rebanho de mesmerizados.
Ou, mesmo que rebanho seja um coletivo um tanto impróprio neste caso, de avestruzes: afinal, enterraram a cabeça na areia quando as evidências gritantes de estelionato estavam sendo escancaradas pela imprensa (com direito a um vídeo repulsivo de celebração do butim).
Tais zumbis certamente fechariam os olhos aos podres do passado de Russomanno. Eleitorado cativo é bom ponto de partida para qualquer candidatura.
Ter a seu dispor uma rede de TV também ajuda --e muito! Começando pela permanência no ar até cinco meses antes das eleições, o que pode não ser ilegal mas, sem dúvida, é imoral. Os candidatos sem beneplácito da máquina de fazer doidos que o digam.
E, se certos métodos dão tão certo em atividades empresariais do segmento religioso, por que não aplicá-los com o mesmíssimo fim nas do segmento político?
Então, deve estar tendo grande serventia para Russomanno o know-how de figurões da Igreja Universal, como o bispo Marcos Pereira (presidente nacional do PRB e seu coordenador de campanha) e o pastor Vinicius Carvalho (presidente estadual do PRB e responsável por sua agenda do candidato).
Isto para não falar do tesoureiro Aildo Rodrigues Ferreira...
Quem não aprende com as lições da História, está fadado a passar de novo pelas mesmas agruras e tragédias.
E também por alguns vexames.
* jornalista e escritor. É candidato a vereador de Sâo Paulo pelo PSOL. http://quero50005.blogspot.com.br/