D. WALDYR CALHEIROS DENUNCIA HOMICÍDIO ENCOBERTO PELO EXÉRCITO

D. Waldyr: como instrumento de libertação,
a luta armada foi "totalmente legítima".

É um excelente trabalho jornalístico a entrevista que a companheira Ana Helena Tavares fez com D. Waldyr Calheiros, 88 anos, bispo emérito de Volta Redonda e Barra do Piraí, em seu blogue Quem Tem Medo da Democracia?.
Ele foi um daqueles clérigos que, como D. Helder Câmara e D. Paulo Evaristo Arns, honraram a batina durante os anos de chumbo, mostrando-se dignos herdeiros da Igreja das catacumbas. Então, vale a pena conferir a íntegra aqui. Há passagens de arrepiar.

Chamo a atenção para este trecho:
"Tem um casal conhecido meu que o filho deles trabalhava no Exército, no batalhão de Barra Mansa, na época da ditadura. Uma vez, ele vinha de lá para Volta Redonda, num jipe do Exército. Era noite e prenderam um rapaz que estava pintando uma propaganda da Casa Confiança. Colocaram-no dentro da caminhonete, onde começaram a socá-lo. Nisso, ele caiu, bateu com a cabeça numa pedra e morreu. Até hoje a família é enganada pensando que houve um acidente, mas tem uma irmã dele consciente de que o mataram. Esse é um caso que a Comissão da Verdade deveria apurar e descobrir o que aconteceu, porque ele morreu dentro do quartel".

Celebrando missa por 3 trabalhadores
da CSN assassinados na greve de 1988.

Somo minha voz à de D. Waldyr: é um caso que a Comissão da Verdade PRECISA apurar.
De resto, fiquei emocionado ao ler esta demonstração de respeito por nossa saga, conforme relato da Ana Helena:
"Para Dom Waldyr, a luta armada de esquerda foi 'totalmente legítima' a partir do momento que funcionou como 'um instrumento de libertação para os que lutaram e uma forma de exigir que a prática de tortura não continuasse'. Para ele, 'ninguém tem uma vocação suicida, maltratando o seu direito de viver, então eles [os guerrilheiros] fizeram o que era necessário'. E vai além: 'Quando um país é oprimido e sofre, por estar sob domínio, a Igreja defende uma guerra justa e admite que aqueles que estão sofrendo e passando mal se levantem para se defender dessas torturas. Uma guerra justa'".
Trouxe-me à lembrança o já combalido D. Paulo Evaristo Arns fazendo questão de me acompanhar até a entrada do convento franciscano do Largo São Francisco depois que, tendo acabado de o entrevistar em 2003, revelei ser parte daquelas histórias dramáticas por ele relatadas.

* jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com

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