Notícia desta 5ª feira (24) da Folha de S. Paulo:
"A Justiça negou pedido para abrir ação penal contra o coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-comandante do DOI-Codi, pelo desaparecimento de Aluísio Palhano em 1971.
A decisão do juiz Márcio Rached Millani, da 10ª Vara Criminal de São Paulo, é um novo revés à estratégia do Ministério Público Federal de denunciar ex-agentes da ditadura por sequestro de presos políticos.
O juiz diz que a tentativa de processar Ustra e o delegado Dirceu Gravina contraria o STF, que manteve a validade da Lei da Anistia para acusados de tortura no regime militar. O Ministério Público vai recorrer".
Não seria mais inteligente o Ministério Público mudar a estratégia?
A atual está mesmo levando a sucessivos reveses, com as várias instâncias do Judiciário sempre se prostrando à estapafúrdia e imoral decisão do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu a ditadores o direito de anistiarem a si próprios e a seus esbirros em plena ditadura.
Brilhante Ustra, contudo, não poderá esconder-se atrás da Anistia de 1979 se o acusarem de responsável pelo atentado ao Riocentro, ocorrido em 1981. Para mais detalhes, acesse aqui e aqui.
Embora fracassado, tal ato terrorista --portanto imprescritível-- deixou um sargento morto e um capitão gravemente ferido. Houve vítimas, pouco importando não serem inocentes. Justiça poética não equivale à justiça do Estado brasileiro.
Os desvairados pretendiam provocar uma matança generalizada, pois o pânico causado pela explosão de três bombas num show musical traria consequências terríveis.
Eram muitos os cúmplices e, presumivelmente, de alto escalão, já que tinham sido suspensos todos os serviços de apoio do Riocentro, incluindo o policiamento e a assistência médica, para que não houvesse socorro imediato às vítimas. Até as portas de saída foram trancadas.
Finalmente, um dos culpados está agora revelando publicamente tudo que foi feito e quem fez: o ex-delegado do Dops que virou pastor evangélico e sente remorsos dos crimes que praticou ou testemunhou, Cláudio Antônio Guerra.
Está tudo preto no branco, em seu livro Memórias de uma guerra suja.
Informa que os comandantes da operação foram “os mesmos de sempre”:
- o coronel de Exército Freddie Perdigão, do SNI;
- o comandante Antônio Vieira, do Cenimar; e
- o então coronel Brilhante Ustra, do DOI-Codi paulista.
Só não entendo por que o Ministério Público prefere dar murro em ponta de faca do que ocupar-se deste crime gravíssimo e igualmente impune.
* jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com