Navi Pillay, alta comissária de direitos humanos das Nações Unidas, é quem fala neste momento em nome dos seres humanos dignos deste nome, ao posicionar-se vigorosamente contra a bestial carnificina deflagrada pelo açougueiro Bashar al-Assad na Síria.
Diz-se "particularmente chocada com a violência em Homs", principal reduto da oposição ao tirano. O veto imoral da Rússia e China à adoção de sanções por parte da ONU teria encorajado al-Assad a usar uma "força esmagadora" (palavras dela) contra a cidade de Homs.
Acrescenta que o número de vítimas da repressão aumentou tanto nos dois últimos meses que o simples registro dos óbitos se tornou tarefa "quase impossível". Mas, garante que "o número de mortos e feridos continua a crescer a cada dia".
Fala-se em 400 pessoas assassinadas em Homs só em fevereiro. E, desde março, no país inteiro, o total ultrapassaria 7 mil, dentre as quais 400 menores.
O regime sírio utiliza inclusive violência sexual para humilhar os rebeldes, informa Pillay:
"Relatos extensos sobre violência sexual, em particular estupro em locais de detenção, principalmente contra homens e meninos, são especialmente perturbadores. Crianças não foram poupadas".
Em balanço por ela encaminhado à Assembleia Geral da ONU, a comissária avaliou que "a escala dos abusos cometidos pelas forças sírias" já configura crime contra a humanidade.
Minhas conclusões:
- está certíssima a Liga Árabe ao pleitear da ONU o envio urgente de uma força de paz conjunta à Síria;
- quem se mancomuna com tal escalada de matanças e atrocidades, perpetradas por um tirano que jamais teve qualquer identificação com a causa dos explorados, é tudo menos um seguidor de Marx ou Proudhon.
Tais herdeiros de Pol Pot afastam de nossas fileiras os cidadãos idealistas e equilibrados de cuja adesão desesperadamente carecemos para recolocarmos a revolução na ordem do dia. Ninguém, exceto fanáticos sanguinários, moverá uma palha para ajudar a instalar em seu país uma ditadura como a de al-Assad.
Enquanto priorizarmos a justiça social em detrimento de nossa outra grande bandeira histórica --a liberdade--, continuaremos desempenhando papel político secundário e quase irrelevante no Brasil.
* jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com