Hoje...Hoje, o bombardear constante de informações, propiciado pela “imprensa”, solapa uma possível inocência de outrora e incita a ações mais contundentes, mais perversas.
Não se pode saber, com exatidão, o quanto de sombrio habita, como um substrato patológico, o cérebro de um menino de treze anos que, armado de um possante revólver de verdade, atira em direção de um carro que passa e ceifa a vida de uma jovem mãe de família, instalando a perplexidade nos espíritos ainda não suficientemente deformados.
O certo é que as forças de nosso tempo- o poder indevido e leviano do qual se arvoram os meios de comunicação- contribuem para tais tragédias. O revólver de espoleta tornou-se anacrônico, até mesmo patético, cômico e ingênuo. Como pensar em matar “de mentirinha”, quando se expõe aos olhos de qualquer um uma vasta propaganda, ou até endeusamento, de criminosos hediondos, com métodos cruéis e eficazes de destruir vidas? Quando se tem a visualização compulsiva do horrendo, da vesânia, em nossas próprias casas, principalmente através da televisão? O que ela nos passa; somos feras e estamos em uma selva, com a obrigação de seguir as leis de um combate selvagem.
O que veio primeiro? Seria partir de um ponto de vista excessivamente angelical dizer que, antes do empenho da mídia em desatar instintos cruéis, o Rio fosse um mar de rosas ou a ante sala do Paraíso, com querubins sobrevoando flores e espalhando fluídos benfazejos sobre a população. Entretanto, a difusão pormenorizada e constante do componente mais negativo da estrutura do ser humano é uma das causas da irrupção de tanta violência partindo das crianças e adolescentes, os mais sujeitos a se sensibilizarem com o que seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem.
A causa primordial, porém, consiste na “coisificação” progressiva das pessoas. Elas são objetos a serem adquiridos a qualquer preço, a fim de serem revendidos e gerarem dinheiro. Não são mais vistas como pessoas, mas como “consumidores”.
Nesta época de desassossego e preocupação com o que se vai comer, ou com a triste realidade de que muitos não vão ter em suas mesas alimento suficiente, que lhes sacie a fome, que lhes proporcione uma vida mais saudável e justa, não é de se minimizar a má influência da ética negativa que nos impingem meios de comunicação tão abrangentes, como a avassaladora maioria dos jornais e a tv. As atitudes heróicas e positivas são relegadas a segundo, terceiro, quarto... ou a plano nenhum. Há até um certo escrúpulo nos homens de boa vontade; esconde-se a maioria no anonimato. Têm vergonha de serem bons. Enquanto isso, a decência rola montanha abaixo, empurrada pelo permanente estímulo do mal, que sob a capa de “informativo”, oculta sua verdadeira natureza e seu real interesse, sua meta, o enriquecimento, doa a quem doer.
Fico pensando no garoto que matou a jovem mãe. Será ele o único culpado de seu ato? Não seria mais natural que ele estivesse em alguma esquina ou terreno baldio, empunhando um revólver de espoleta e matando “de mentirinha” seus companheiros de folguedos?
E, infelizmente, isto não é só no Rio... (NC)
Regina Oliveira