Um "ritual" que costumo fazer todo final de ano é escrever sobre o ano que passou, fazendo um resumo dos acontecimentos mais importantes, assim me torno mais consciente do que vivi. Na cultura de meu marido este procedimento é bastante comum e chamam de Christmas Letter onde parentes e amigos que não estiveram muito em contato mandam uns aos outros as cartas, criando um vinculo maior nesta época do ano e a alegria de receber tanta correspondência interessante. Estou um pouco atrasada com a minha, mas fica como Carta de Ano Novo.
Carta de Ano Novo,
Sempre dou um nome ao meu ano, e o que mais me chamou atenção neste foi uma maior tomada de consciência e a importância de nós mulheres na mudança da historia da humanidade.
Em Janeiro tivemos a visita de meus pais e decidimos levá-los a conhecer outras cidades no Chile e atravessar a fronteira até a Argentina visitando San Martin de Los Andes e Vila Angostura. Foi ótimo este tempo que passamos juntos, curti ao máximo estar em família e fazer coisas simples como cozinhar com minha mãe, recordar o passado e rir bastante brincando com tudo. Coincindiu com a visita deles a época em que Megabyte(nosso gato) começou a ficar mal e em fevereiro se foi. O único consolo foi que Mega já tinha 18 anos e estava mesmo chegando sua hora.
Em março fizemos uma viagem a Patagônia Chilena e Argentina. Nossa viagem iniciou em Puerto Montt onde pegamos o Ferry Boat, levando o carro cheio de baranga, e chegamos no dia seguinte em Chaiten. Ao desembarcar, metemos o pé na estrada, Carretera Austral, passando por várias localidades, umas dormindo outras não, até chegar a Villa O`higgins. A estrada é de terra a maior parte do tempo e passamos por parques, lagos, florestas, águas e mais águas caíndo das montanhas, friozinho, geleiras, rios... No caminho encontramos vários ciclistas extranjeiros, com suas mochilas e barracas nas costas.
Alguns pontos picos dessa viajem foram Caleta Tortel, uma comunidade de 500 habitantes, que fica no golfo de Penas e foi declarada Monumento Nacional na categoria Zona Típica. Nesta comunidade as ruas foram substituídas por passarelas, escadas e pontes,com mais de 7km de extensão. Nada de carros, estes ficam estacionados fora da cidade. Depois disso pegamos o Ferry para ir até Vila O`Higgisn, que fica no Campo de Gelo Sul, uma das maiores geleiras do mundo (da para imaginar o frio que fazia não?). Dormimos na mais adorável cabana, onde havia um grande e antigo fogão a lenha para aquecer nossa noite e dar a nossa comida um sabor ainda mais intenso na carne assada com papas que preparei. Dali voltamos alguns km para entrar na Argentina e seguir viagem, desfrutando de belissimas paisagens. Passamos por pampas, algumas áreas de sal, muito vento forte puxando o carro e alguns animais e aves no caminho como guanacos, nandus(avestrus), patos selvagens, tatu, Flamingos, e outros.
Mais a frente entramos na famosa Ruta 40, ruta de aventureiros que vem conhecer a Patagonia. Mas infelizmente, digo eu, estão quase no final das obras de asfalto. Em março de 2010 quando estivemos lá, pegamos neve, chuva e lama, dei umas boas derrapadas em poças, com alguns gritando no banco de trás e foi pura emoção.
Torres Del Paine |
Também, visitamos El Chaitén,onde fizemos treking aos pés do FitzRoy, e a noite muita cerveja artesanal e comida boa. Estivemos em El Calafate, excelente restaurantes (cordeiro), passeios para avistamento de aves e cerveja artesanal é claro.
Para nossa sorte, ao continuar a viajem depois de Calafate em direção a sul, estava nevando. Ao percorrer alguns quilômetros a neve ia fica cada vez mais pesada e a paisagem ainda mais bonita, com neves cobrindo as árvores e floquinhos caindo. Perto da localidade de 28 de Novembro, muitos Condores sobrevoavam o céu. Cruzamos novamente para o Chile, descobrimos que nosso cartão de residência no Chile estava vencido e teríamos que renovar urgente. Nos dirigimos até Punta Arenas onde chegamos exaustos a noitinha e parmos em um hotel antigo que descobrimos não tinha água quente e no dia seguinte fedia ovo podre, pum e sei lá mais o que, mas no entanto tinha character, como diz Gerry, as pessoas pareciam personagens tirados de um livro de Isabel Allende. Por fim pegamos o Ferry Boat Navimag em Puerto Natales, para voltar a Puerto Montt, depois de 5 semanas viajando. No Navimag fizemos amizade com David e algumas outras pessoas interessantes. David é americano, trabalhou na Casa Branca em um bom cargo, um senhor respeitável e com uma boa bagagem de cultura. Lá pelas tantas me contou que os USA fabricam guerras e este ano na base de umas 40, ganhando muito dinheiro com a venda de munições e outras bárbaras coisas. Pera aí, o que foi que eu ouvi? As guerras são intencionais? Onde eu viva? Em um conto de fadas? Bem, aqui começaram meus choques ao ouvir coisas inesperadas este ano.
Viajamos a Venezuela no dia 21 de maio, para ver o Rajah Laut (nosso Veleiro). La aguardamos a chegada de Victor um possível comprador. Victor apareceu uma semana depois de Gerry ter feito o contato o que nos deu tempo de limpar e colocar tudo em ordem. A vida é muito interessante não é mesmo? Nos dá tudo de que precisamos e na hora certa. Nestes três anos de Rajah na Venezuela, nos tínhamos tirado tudo que queríamos e trazido até nossa casa no Chile, além de nos dar tempo de desprender. Victor ficou conosco por 4 dias, não dormiu no barco, mas em um hotel, detalhe, um dia teve o maior tiroteio na frente do hotel pela tarde, coisas da atual situação na Venezuela. Pedimos a Victor que chegasse todos os dias o mais cedo que pudesse, pois so trabalhávamos das seis da manha ate umas nove, depois ninguém agüentava mais o calor de media 36 graus.
ictor ao chegar foi logo anunciando que era vegetariano, sendo algo bem relevante se vamos conviver junto com outra pessoa por um tempo. Depois descobri que Victor e sua esposa praticam Ayurveda. Assim ao voltar a casa comprei alguns livros sobre alimentaçãao Ayurveda e experimentei, realmente é muito interessante e faz diferença.
Voltamos da Venezuela no dia 6 de junho e em 6 de julho Rajah foi vendido a Victor e tenho certeza que ira cuidar muito bem dele.
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Viajamos a AFRICA DO SUL no dia 04 de agosto. Estivemos 5 semanas entre parentes e amigos por muitos lugares da Africa. Nas fazendas nos receberam com festas, comilança, vinhos deliciosos, boas risadas e muitas caminhadas na natureza. Nos levaram a passear no Kruger Park e para ver as flores perto da Cidade do Cabo. Mike, irmão do Gerry, nos levou a Zimbabue de carro para vermos a irma do Gerry passando por Moçambique e Botsuana, tendo a oportunidade de ver a pobreza em que estes países vivem. Desta vez tomei mais consciência da situação social em que vive o continente Africano e o que me levou a fazer muitas mudanças internas em meu ser. Vi o descaso e o abuso dos colonizadores que vieram a muito tempo viver nestes países e mantém seu estilo de vida e pensar. A diferença de classes sociais, o separatismo, a escravidão com que muitos ainda vivem é uma vergonha. Na Cidade do Cabo presenciei cenas de chocar, como passando por uma rua um rapaz estava abrindo a lata de lixo, desesperado comendo o que via na frente e olhando preocupado se alguém viria repreende-lo. Me disseram que são os refugiados vindos de países ainda mais pobres em procura de algo melhor. Uma situação gritante, ver grupos de pessoas dormindo embaixo de pontes, grupos dormindo ao relento no cais do porto esperando serviço no próximo navio e assim vai. O mais chocante ainda foi ouvir de alguns das classes mais abastada, palavras cruas e duras de discriminação, deboche e ódio pelos verdadeiros Africanos, donos das terras. Assim meus véus vão caindo e a idéia de que tinha sobre outros países mudando.
Chegamos da Africa no dia 10 de setembro. Agora poderei ver passagem para o Brasil. Seis anos que não havia voltado ao Brasil. Saí com um pouco de dor, resentimento e vontade de não voltar mais. Agora estaria preparada? Bem, chegou a hora, teria que ir mesmo com estes medos que a mente também aumenta não é mesmo? E enfim tudo resultou bem, um tanto apreensiva no começo, mas o medo foi desaparecendo aos poucos e vi que tinha tomado a muito tempo atrás decisões certíssimas, então a confiança foi tomando lugar e foi ótimo ver como reagi a tudo com muito mais madurez. Agora, estar com família é somente uma questão de relembrar o passado e curtir os poucos momentos que nos restam juntos, pois a vida é curta. Com meu pai, eu e Gerry curtimos bons momentos,nos deu bastante atenção e nos divertimos juntos. Eu e Gerry subimos a cerra e fomos até Lajes, Urubici e outras pequenas cidades. Ficamos encantados com as belezas da Cerra Catarinense e observamos como tão perto de Florianópolis podemos desfrutar de lugares mais tranqüilos, cheios de verde e de natureza lindíssima.
Pedra Furada- Urubici
Agora em casa e nos preparando para dia 26 de dezembro viajarmos a Punta Arenas e outras cidades mais a Sul de Chile.
Feliz Ano Novo a todos!!!