Na trama, estudantes da cidade, mobilizados redes sociais clandestinas, identificadas como forças revolucionárias em marcha para derrubada do regime, eram insufladas a gerar eventos de desafio e enfrentamento dos poderes e das autoridades constituídas.
O autor da novela chegou ao absurdo de promover o fictício assassinato de um presidente da República ao beber um trago de cachaça envenenada da garrafa que havia ganho de presente do prefeito.
Não sei por que as cenas, o personagem presidencial, e o método usado para assassinar o presidente me fizeram lembrar uma triste comparação com o ex-presidente Juscelino.
Aqui em Vitória, não chegamos a transformar a ficção em realidade, contudo, ficamos bem perto. Um bando de estudantes, mobilizados por redes sociais, empunhando como bandeira social a péssima qualidade do transporte urbano dos municípios da grande Vitória, o absurdo preço das tarifas, a exigência de aumento de passes livres para várias categorias, anunciou e cumpriu que não permitiria a realização do Fórum Nacional da Reforma Eleitoral, evento promovido pelo TER se não pudessem participar do evento e discutir com o governador Renato Casagrande as suas reivindicações.
Os protestos que já duram semanas, quase diários, começam sempre pelo fechamento das principais vias da malha viária da capital, com o engarrafamento atingindo o direito de ir e vir das pessoas, os atendimentos médicos de urgência, a vida bancária, o comércio e a produção do complexo industrial dão municípios vizinhos. Caos, caos absoluto.
Posso dizer que o mais agravante não são os prejuízos causados a normalidade da vida dos municípios atingidos, mas sim, que as ações tomaram outro rumo, são claras provacações as forças da Segurança Pública estadual e a autoridade do governador. Um convite para o confronto, que se reprimido, dará aos manifestantes o papel de vítimas da opressão e da violência das forças repressoras que impedem os direitos da livre manifestação do povo.
Ocorre que os protestos de rua perderam o sentido quando, na segunda-feira, o governo reabriu negociações com os líderes estudantis, tendo como intermediador o secretário de Estado de Ações Estratégicas, André Garcia, anunciando o aumento de passe livres, garantindo que a medida não ocasionaria novos aumentos das tarifas. O governo iria bancar.
Por outro lado, o secretário falou ainda de mais uma intervenção do governo para reduzir os problemas dos transportes urbanos retornando, no início do próximo ano, o transporte aquaviário entre Vitória e Vila Velha que será integrado ao Transcol.
Com negociações que avançam, conferindo aos manifestantes o mérito de batalhas vencidas, mesmo que não atendidas plenamente as demandas, já deveriam ser suficientes para devolver à população a tranqüilidade pública.
DO FORUM NACIONAL DA REFORMA ELEITORAL
Esse é um dos mais importantes debates que se apresenta como desafio ao povo brasileiro. Pessoalmente não acredito em mudanças, não vejo ninguém falar da revogação das leis imorais e ilegais que blindam os políticos profissionais de carteira assinada, marginais, corruptos, que compram cargos eletivos para deles se beneficiarem em proveito próprio.
Se o crime organizado não elege seus próprios representantes, financia a eleição de procuradores.
O voto obrigatório continuará sendo um direito esdrúxulo. Se o cidadão não encontra motivos para votar em razão do total descrédito dos candidatos é obrigado a comparecer as urnas para não sofrer sanções, multas e perda de crédito, ameaça de suspensão de salários. Uma barbaridade. Mas eles precisam do voto dos inocentes, mais fáceis de serem manipulados.
Mesmo assim, pessoalmente acredito que a Reforma Política é um desafio que deve ser enfrentado pela nação.
A vitória heróica dos estudantes capixabas impedindo uma visita ao Espírito Santo, e a realização de um dos mais importantes eventos desse triste capítulo que está sendo escrito na história do Brasil, deveria ganhar como título "O DIA DA VERGONHA".
O entusiasmo e a coragem desses jovens deveriam servir ao Brasil, colocar na mesa de debates suas opiniões e propostas para moralização política. Sua disposição em lutar sim, pela real democracia, pelo legítimo estado de direito, pela garantia plena dos direitos da cidadania.
Recordo com tristeza a madrugada do dia 25 de agosto de 1954 quando, com apenas 14 anos, participei da revolta do povo brasileiro contra o anuncio do suicídio de presidente Vargas.
Fui um dos presos pelas forças de repressão do governo provisório instalado as pressas. Foram três dias de martírio, primeiro nas dependências de uma unidade do exército, na quinta da Boa Vista, depois transferido para as dependências da Polícia Central e, posteriormente para uma dependência do DOPS.
Todos os presos, sem distinção, eram tratados como perigosos comunistas, perigosos subversivos, espancados, humilhados.
Nos meus 35 anos de residência no Espírito Santo já sofri vários atentados contra a minha vida por manter programas de rádio e televisão, editar jornais e revistas que eram usados na defesa dos direitos sociais e como veículo da verdade para denunciar ao vivo e com a minha assinatura os corruptos e os chefes de facções do crime organizado.
Daí por diante passei a ser um militante dos movimentos populares com consciência das causas que defendia.
No dia 15 de junho de 2011, senti vergonha do apelidado movimento estudantil capixaba em luta por causas sociais. Um movimento sem causas, ou inconscientemente a serviço de causas e interesses de terceiros.
- Paulo Carneiro
- Colaboradores do Rebate