De um lado Juazeiro, na outra extremidade Petrolina. No meio a Ilha do Rodeadouro, um paraíso natural formado por belas praias de água doce e principal ponto turístico da região do sertão do São Francisco. São quatro mil visitantes a cada final de semana, público formado por moradores das duas cidades e turistas que vêm conhecer de perto as belezas do rio.
“Conheço várias praias no Brasil, belas praias, mas não troco essa por nenhuma outra”, analisa o empresário de Petrolina Kléber Brandão, 47 anos. A ida com a família, esposa, filhos e amigos, nos finais de semana é programa certo nos finais de semana, percurso feito de Petrolina à ilha numa lancha particular. “Aqui a gente vence qualquer estresse que tenha acumulado durante a semana. Esse rio é maravilhoso, só de navegar por ele a gente já fica em paz, é a maior riqueza do sertão. E as crianças adoram brincar nessa praia”.
De férias na cidade de Juazeiro, cidade onde mora a família da esposa, o funcionário público carioca Fernando da Conceição, 53 anos, se diz espantado com a dimensão do rio. “Já tinha visto imagens na televisão, mas ao vivo é que se pode ver como é grande e bonito o São Francisco. Praia muito boa, água morna, bons bares e restaurantes, gostei muito de vir aqui. Daqui a dois anos espero estar de volta”, planeja.
Vinte e oito bares e restaurantes atendem o público visitante. No cardápio, moqueca de surubim, piranha, cari e dourado assados na brasa, são os pratos mais procurados. Proprietário da Cabana Coisa D’Água, o empresário Kléber Dantas prima pela criação de pratos que unem o sabor das frutas da região com os peixes encontrados na bacia do São Francisco.
Um dos sucessos de seu restaurante é o Maracari, creme de Cari – peixe tido como a lagosta do São Francisco – com suco de maracujá e ervas, servido dentro da fruta, ao preço de R$ 3,00. “Aqui a gente explora o turismo, não o turista”, observa o empresário. No cardápio do restaurante, o prato mais caro, surubim ao molho de camarão, sai ao preço de R$ 39,00.
A cozinha é comandada por Alice Dantas, mãe do empresário e que trocou a vida agitada em Petrolina pelo sossego da ilha. “Vim passar o réveillon e resolvi ficar de vez”, conta. Todos os pratos são feitos somente na hora em que o cliente faz o pedido e nada é reaproveitado de um dia para o outro. Além do Maracari, o cardápio oferece Moqueca de Surubim, Cari ou Camarão, peixes assados na folha de bananeira, ou ainda acompanhados de melão, abacaxi ou coco.
Todo o óleo utilizado em frituras na ilha é recolhido por Dona Alice e transformado em barras de sabão, que são distribuídas com os próprios comerciantes da ilha e moradores do ilha do Massangano, vizinha do Rodeadouro. “A gente sabe da poluição que o óleo pode causar ao rio, então esse trabalho é fundamental. Faço com satisfação”, defende ela. Também as latas de alumínio e garrafas pet são recolhidas e doadas a uma cooperativa de reciclagem de Petrolina.
Do lado da cidade pernambucana existem apenas dois restaurantes, a Cabana Coisa D’Água e o Bar e Restaurante de Seu Né. Aqui é imperdível a piranha assada na brasa, servida com salada, arroz e feijão de corda com farofa. Uma especialidade de Dona Marina, esposa de Seu Né, o pernambucano Manoel Rodrigues da Silva, 60 anos, pioneiro no turismo da ilha.
Esse é o lado calmo das praias do Rodeadouro, onde impera o silêncio, caso do restaurante de Seu Né, ou uma excelente MPB, seja com som ambiente, de segunda a sábado, seja ao vivo, sempre aos domingos, na Cabana Coisa D’Água. Do lado de Juazeiro ficam outros 26 restaurantes. A faixa de areia da praia é extensa e muitas famílias optam pelo piquenique. Aqui o som é alto e as músicas entoam de tudo, uma verdadeira salada sonora.
Além das lanchas particulares e Jet Sky que ancoram nas praias, barcas no litoral de cada cidade transportam diariamente os visitantes. Em Juazeiro, o serviço é coordenado pela Associação dos Proprietários e Condutores de Barcos da Ilha do Rodeadouro. O bilhete ida e volta custa R$ 3,00 e o embarque deve ser feito a partir da Vila do Rodeadouro, aconchegante vilarejo, com cerca de mil habitantes, situado a 16 quilômetros do Centro de Juazeiro.
Pelo lado de Petrolina a travessia é feita pelas barcas do Almizão e do Juarez. Cada barca possui píer de embarque e desembarque próprios, distantes cerca de cem metros um do outro e localizados na Vila Roçado, Estrada da Tapera, quilômetro 12.
Trabalho e renda
“Toda quarta-feira desembarcam nesta ilha duas mil caixas de cerveja e muitas vezes, no domingo de noite, já não se encontra uma cerveja sequer. É muito dinheiro que circula por aqui”, afirma o comerciante Manoel Rodrigues da Silva Santos, 73 anos, popularmente conhecido como Seu Né. Ele é um pioneiro no desenvolvimento do turismo no Rodeadouro, movimento que se iniciou com funcionários da Chesf que trabalharam na construção da hidrelétrica de Sobradinho, em 1976.
“No início o cardápio era apenas cachaça e peixe assado. Em 1981 começou o turismo grande, mas ainda era difícil. Para se ter idéia do trabalho, cheguei a descarregar 700 barras de gelo num único fim de semana, para conservar as bebidas e peixes. Em 82 já tava lotado. Somente em 1991 é que a energia foi trazida para a ilha, o que facilitou tudo”, conta Seu Né. Hoje, além dos bares e restaurantes, há bancas de acarajé, picolé e sorvete, batata frita, sanduíches e lojas de roupas e acessórios de praia e aluguel de bóias para a criançada.
Além das três barcas que trabalham diariamente, outras três são empregadas durante as temporadas de maior movimento. “Com as seis barcas operando a gente dobra a capacidade de transporte para 400 pessoas por viagem. Em um fim de semana são três mil pessoas transportadas, além das que embarcam a partir do cais de Petrolina”, calcula o diretor da Associação com sede na Vila do Rodeadouro, Antônio Laurindo, 60 anos. Todo o dinheiro arrecadado é igualmente dividido entre os 28 associados, que trabalham em regime de cooperativa.
Juazeiro X Petrolina
Com cerca de 4 quilômetros de extensão, a ilha do Rodeadouro é, originalmente, uma terra pertencente ao estado da Bahia. Mas como na música de Luiz Gonzaga, as duas cidades se confundem na cabeça dos habitantes da região. Eu gosto de Juazeiro e adoro Petrolina, canta o rei do baião. “Aqui é Petrolina e do outro lado é Juazeiro”, insiste o comerciante mais antigo da ilha, Seu Né.
Apesar da extensão de 4 quilômetros, a ilha do Rodeadouro não passa de cinqüenta metros de largura separando as praias. A mais extensa é tido pela população e para os visitantes, como a praia do Juazeiro. Outras duas praias menores, que apontam para a cidade de Petrolina, são tidas como praias de Petrolina.
Para a prefeitura de Juazeiro, essa divisão não passa de um costume popular, pelo fato de as duas cidades terem portos de onde partem as embarcações com destino à ilha. “Os barcos que vêm de Petrolina aportam numa praia, os que vêm de Juazeiro aportam em outra, então o povo faz essa confusão, dizendo que uma praia é Petrolina e a outra é Juazeiro, mas a ilha é território de Juazeiro”, afirma a Secretaria de Comunicação do município.
Além da ilha do Rodeadouro, há outras entre as cidades irmãs, Petrolina, chamada a Rainha, e Juazeiro, chamado o Príncipe do rio São Francisco. No meio da ponte Presidente Dutra, que liga as cidades por via rodoviária, existe a ilha do Fogo, que a prefeitura baiana julga pertencer a Juazeiro. Nela não existe infra-estrutura de turismo, mas é comum ver barcos e lanchas particulares em pequenas praias.
Na própria ilha do Rodeadouro, todo o sistema elétrico provém de Petrolina, assim como o sinal de telefonia móvel registra o código da cidade pernambucana. Na praia pernambucana os serviços de coleta de lixo e guarda-vidas é feito a partir de Petrolina. Na praia baiana os mesmo serviços são feitos a partir de Juazeiro.
Ao lado do Rodeadouro, a ilha Massangano não dispõe de estrutura turística, mas a população, estimada em cerca de mil habitantes, defende que o território é parte de Pernambuco. “Toda a estrutura é dada por Pernambuco, estradas, escolas, postos de saúde. E é costume que os recém-nascidos sejam registrados em Petrolina”, conta o funcionário público e morador da ilha, Francisco Chagas, 54 anos. Dilemas à parte, o certo é que as praias da ilha do Rodeadouro formam algumas das mais belas e aconchegantes paisagens entre as cidades de Juazeiro e Petrolina.
SERVIÇO:
Onde se hospedar: Dois comerciantes da ilha dispõem de quartos e barracas de aluguel. Fábio William (87 – 8809.9129) oferece dois quartos de casal a R$ 50,00 a diária, além de barracas a R$ 15,00 e R$ 20,00. Já o empresário Kléber Dantas, da Cabana Coisa D`Água (87 8812.3740 / 8812.3741 / 8827.3660) dispõe de quatro quartos a R$ 40,00 e uma suíte especial, com vista para o rio, cama de casal, frigobar, ar-condicionado, TV de 40 polegadas e DVD, ao preço de R$ 100,00 a diária, além de barracas ao custo de R$ 20,00.
Olá José Milbs, como vai?
Descobri seu jornal na internet e gosto muito da linha editorial que você implementa na comunicação. Meu nome é Arthur Maciel, sou jornalista formado em 1996, com passagens pelo Diario de Pernambuco, Folha de Pernambuco, assessorias de imprensa de prefeituras do Estado e freelance da revista Família Cristã. Trabalho em conjunto com amigos, jornalistas José Augusto Cindio, Jesus Carlos e José Paulo Borges - www.sertaomelhor.com.br - entre outros profissionais. Envio para você uma reportagem sobre a ilha do Rodeadouro, entre Petrolina/PE e Juazeiro/BA para você analisar, as fotos são de Jesus Carlos, caso você tenha interesse no assunto. Também me ponho a disposição para trabalhos específicos, assuntos do Nordeste que interessem ao Jornal O Rebate. Parabéns pelo trabalho e grande abraço.
Arthur Maciel
Jornalista MTb 2452/PE