A primeira experiência de tomada de poder pelos  trabalhadores na era capitalista, a heróica Comuna de Paris, ocorreu em 1871,  de 18 de março a 28 de maio.  
 
Está, portanto, completando 140 anos.
 Várias atividades  marcarão a efeméride. Vocês encontram a programação completa e muitas outras  informações no blogue Amigos da Comuna. 
 Para relembrar  este episódio histórico de extrema relevância para quem luta por uma sociedade  livre, justa e solidária, nada melhor do que os textos de Marx e Engels,  lançados logo após a sangrenta repressão desencadeada contra os  communards.  Fiz uma síntese:
 "Na alvorada de 18 de março de 1871, Paris foi  despertada por este grito de trovão: "VIVE LA COMMUNE!".
 Os proletários da  capital -- dizia o Comité Central no seu manifesto de 18 de março -- em meio às  fraquezas e das traições das classes governantes, compreenderam que chegara  para eles a hora de salvar a situação, assumindo a direção dos assuntos  públicos. O proletariado compreendeu que era seu dever imperioso e seu direito  absoluto tomar nas suas mãos o seu próprio destino e assegurar o triunfo,  apoderando-se do poder.
 Mas a classe  operária não se pode contentar com tomar o aparelho de Estado tal como ele é e  o pôr a funcionar por sua própria conta.
 O poder  centralizado do Estado, com os seus órgãos presentes por toda a parte: exército  permanente, polícia, burocracia, clero e magistratura, órgãos moldados segundo  um plano de divisão sistemática e hierárquica do trabalho, data da época da  monarquia absoluta, em que servia à sociedade burguesa nascente, como arma  poderosa nas suas lutas contra o feudalismo.
 
 Face à ameaça de  sublevação do proletariado, a classe proprietária unida utilizou então o poder  de Estado, aberta e ostensivamente, como o instrumento de uma guerra nacional  do capital contra o trabalho. Na sua cruzada permanente contra as massas dos  trabalhadores, foi forçada não só a investir o executivo de poderes de repressão  cada vez maiores, mas também a retirar pouco a pouco à sua própria fortaleza  parlamentar, a Assembleia Nacional, todos os meios de defesa contra o  executivo.
 O poder de Estado,  que parecia planar bem acima da sociedade, era todavia, ele próprio, o maior  escândalo desta sociedade e, ao mesmo tempo, o foco de todas as corrupções.
 O primeiro decreto  da Comuna foi, pois, a supressão do exército permanente e a sua substituição  pelo povo em armas.
 A Comuna era  composta por conselheiros municipais, eleitos por sufrágio universal nos  diversos bairros da cidade. Eram responsáveis e revogáveis a todo o momento. A  maioria dos seus membros eram naturalmente operários ou representantes  reconhecidos da classe operária. A Comuna deveria ser não um organismo parlamentar,  mas um corpo ativo, ao mesmo tempo executivo e legislativo. 
 Em vez de  continuar a ser o instrumento do governo central, a polícia foi imediatamente  despojada dos seus atributos políticos e transformada num instrumento da  Comuna, responsável e revogável a todo o momento. O mesmo se deu com os outros  funcionários de todos os outros ramos da administração. Desde os membros da  Comuna até ao fundo da escala, a função pública devia ser assegurada com  salários de operários.
 
 Uma vez abolidos o  exército permanente e a polícia, instrumentos do poder material do antigo  governo, a Comuna teve como objetivo quebrar o instrumento espiritual da  opressão, o  poder dos padres; decretou a dissolução e a  expropriação de todas as igrejas. Os padres foram remetidos para o calmo retiro  da vida privada, onde viveriam das esmolas dos fiéis, à semelhança dos seus  predecessores, os apóstolos.
 Todos os  estabelecimentos de ensino foram abertos ao povo gratuitamente e, ao mesmo  tempo, desembaraçados de toda a ingerência da Igreja e do Estado. Assim, não só  a instrução se tornava acessível a todos, como a própria ciência era libertada  dos grilhões com que os preconceitos de classe e o poder governamental a tinham  acorrentado.
 Os funcionários da  justiça foram despojados dessa fingida independência que não servira senão para  dissimular a sua vil submissão a todos os governos sucessivos, aos quais, um  após outro, haviam prestado juramento de fidelidade, para em seguida os violar.  Assim como o resto dos funcionários públicos, os magistrados e os juizes  deveriam ser eleitos, responsáveis e revogáveis.
 
 Após uma luta  heróica de cinco dias, os operários foram esmagados. Fez-se então, entre os  prisioneiros sem defesa, um massacre como se não tinha visto desde os dias das guerras  civis que prepararam a queda da República romana. 
 Pela primeira vez,  a burguesia mostrava a que louca crueldade vingativa podia chegar quando o  proletariado ousa afrontá-la, como classe à parte, com os seus próprios  interesses e as suas próprias reivindicações."
 
 * Jornalista e escritor. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com
- Celso Lungaretti (*)
- Colaboradores do Rebate

 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  





























