No exercício diário do debate e da reflexão crítica, sempre procuramos oferecer visões de mundo cada vez mais progressistas e libertárias, o que nos faz enfrentar constantes polêmicas. É bastante usual nos defrontar com a contraposição entre países subdesenvolvidos (ou, numa perspectiva mais romântica, países em desenvolvimento) e países desenvolvidos.
Entretanto, lanço uma tese um tanto quanto polêmica: não existem subdesenvolvidos de um lado e desenvolvidos de outro. A ordem econômica internacional é caracterizada por relações político-econômicas injustas e desequilibradas. Temos, de uma parte, antigas colônias, abundantes em recursos naturais e especializadas no extrativismo e agronegócio. É o caso da imensa maioria dos países, onde vivem esmagadoras parcelas da população mundial, incluindo o Brasil. Nestes casos, há péssimos indicadores sociais, bem como índices baixos de aproveitamento econômico dos recursos naturais. De outra parte, temos as ex-metróples, uns poucos países extremamente ricos, os ditos "desenvolvidos", senhores de atividades econômicas com alto valor agregado, ainda que enfrentem constrangedoras contradições entre suas classes empresarial e trabalhadora. Vejam, no que tange ao exposto, os exemplos de desemprego nos Estados Unidos da América, bem como as constantes revoltas populares nas periferias francesas. Assim sendo, a expressão "subdesenvolvidos" faz crer, erroneamente, que se continuarem com suas atuais opções político-econômicas, os países pobres um dia chegarão à prosperidade. Mentira, prezados leitores... Trata-se de uma mistificação ideológica, pois, a rigor, não há prosperidade para quem se submete à exploração. Só a título de exemplo, uma realidade que nos é amarga: o Brasil dedica-se faz QUINHENTOS anos à exploração dos seus recursos naturais e ainda somos miseráveis... Por que o agronegócio seria hoje a solução? O desenvolvimento não está por vir a quem optou pela submissão político-econômica. E mais: os países desenvolvidos só são ricos haja vista as relações injustas a que submetem os países pobres. Portanto, não há o que se falar sobre "países desenvolvidos" e "subdesenvolvidos". Mais apropriado é dizer que existem, sim, países exploradores e explorados. Entretanto, tais expressões são rejeitadas pelo discurso conservador na medida em que escancaram a real condição das nações nas relações internacionais. É preferível, pois, o discreto eufemismo das palavras "subdesenvolvimento" e "desenvolvimento". Cabe-nos, de tal forma, sempre refletir de forma madura sobre a realidade que nos cerca, especialmente no sentido de detectarmos vocabulários os quais, num primeiro momento, soam ingênuos, mas cuja essência oferece eficazes mecanismos de mascaramento da verdade social.
Mini-currículo: Vinícius Magalhães Pinheiro é mestre em Direito Político e Econômico (Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP)