Foi singela a homenagem prestada pela Câmara Municipal de São Paulo ao companheiro Eduardo Collen Leite, o Bacuri, resistente executado pela ditadura brasileira no final de 1970, após ser submetido a suplícios inenarráveis durante três meses e meio.
Os depoimentos de sobreviventes traçaram bem sua trajetória de luta e reconstituíram as circunstâncias de sua morte.
Ivan Seixas lembrou as duas tentativas de salvar sua vida, planos para: 1) resgatá-lo na delegacia longínqua onde o ocultavam; e 2) trocá-lo pelo comandante do II Exército.
Ambas malograram, segundo ele, devido à infâmia de um infiltrado, cujos alertas fizeram com que o Eduardo fosse transferido para o Deops na véspera e levaram agentes do DOI-Codi ao palco do sequestro (face à perspectiva de um mútuo massacre, os companheiros optaram por devolver o general que já estava em seu poder, contra a garantia de que debandariam sem ser perseguidos).
Foi chocante também a revelação de que os comandantes militares mandaram à esquerda o recado de que o Eduardo era um refém da repressão e seria morto caso houvesse um quarto diplomata sequestrado; ameaça integralmente cumprida.
E comovente o relato das peripécias da Denise Crispim para conseguir que o Bacuri fosse reconhecido como pai da filha de ambos (não eram casados e ele já estava preso quando a Eduarda nasceu, tendo morrido sem a conhecer).
O final feliz só ocorreu na década passada, após uma luta insana contra as burocracia insensíveis. A Comissão de Anistia ajudou.
Por último, a sessão solene teve também, acentuadamente, o espírito de uma merecidíssima homenagem às companheiras que lutaram e às esposas e parentes dos militantes, que tanto ajudaram durante e depois.
Os vereadores Ítalo e Juliana Cardoso estão de parabéns, por esta iniciativa exemplar.
E, como disse alguém, o título de cidadão paulistano outorgado in memorian ao Eduardo Leite é uma honra... para a cidade de São Paulo.
* Jornalista, escritor e ex-preso político. http://naufrago-da-utopia.blogspot.com