Não há nada de errado com ela! É só uma ansiedadezinha típica, deve ser tédio. É só ocupar-se com alguma distração e tomar um diazepam(ou ulteriores semelhantes para a mesma função).
Afinal, por que não estariam certos? Como disse o famoso literato Paul Valéry, "lo más profundo és la piel".
Porém, cada ser único, ao desesperar ante inefável dor sem poder comunicar algo mais para todos que enxergam como o mais profundo a pele, a solidão e desconhecimento de causa e como atenuar seu tormento aumentam e a invisível consupção vital gritando o alerta dolente de perigo iminente por vezes explode nas águas lacrimais, excessiva secreção da mucosa nasal, glóbulos brancos, vermelhos disparam para todas as veias e artérias impulsionando a bomba cardíaca a funcionar em potência máxima, assim como as glândulas sebáceas, pancreáticas, sinapses aumentam a produção de neurotransmissores sem tempo de controle sobre seu equilíbrio, produzindo miscelâneas de sensações conhecidas como emoções ditando o imperativo descompensado de movimentos, inicialmente dos órgãos do sistema autônomo simpático e parassimpático, invadidos pelas memórias anacrônicas em meio às faculdades de cognição, imaginação, percepção e todo o sempiterno mistério minando em progressão geométrica as tênues fronteiras entre esses funcionamentos. Tudo resulta em algum evento irracional motivado a dar voz e expressão na esperança de se tornar visível ao exterior, suplicando por qualquer atenuante, embora muitas vezes seja tarde demais...
Sônia, insônia, sono, só no [vazio]... Culpa. Há imprevisto problemático, sabe-se a causa. A senhorita é dona dela. Da tristeza na família, seu afastamento social, familiar, mal-humor, pois todos "precisam" ficar por conta da maluca fracassada aposentada precocemente por inadaptação social. Possuía um futuro promissor, malogro. Por que ela faz isso conosco? Parasita que a covardia sob a coberta do ser católico praticante não admita dizer que não suporta mais, só dá trabalho e nada acrescenta... ainda que seja verdade.
Nasceu para viver. Entanto tanto fez que perdeu o merecer. Injusto ser o fardo pesado que erra até quando age com a melhor das intenções."De boas interções o inferno não está cheio? O espelho é embusteiro, nunca diz o monstro que ela é: agredindo, ferindo, espantando, enojando, irritando sem nem mesmo perceber. À revelia do desejo consciente.
Diz-se: - Basta ser você mesma! Quem gostar de você irá gostar pelo que é. E fica a tentar ser agradável e pensa: - Puxa! Sendo essa coisa tal de "si mesma" só traz decepções a todos, desastres, até criativos, erra de maneiras inovadoras!
Desistira de tentar imitar os padrões sociais vigentes porque só recebia escárnios, humilhações e nunca conseguira mesmo. Não colocou muito esforço nisso também, até porque para ela os palhaços ridículos e fúteis eram eles, os normóticos. Só não imaginara que a consequência chegaria a forças brutais, químicas, rotulações, discriminações, prisões tão sérias e torturantes, onde se sentia bem como os algarismos de matemática de Malba Tahan seriam neste mundo. Objeto que se amaina, não se escuta, considera-se burro e violento, arrasta-se pelo cabelo como formas de tratar tais "coitadinhos". Isso é século XXI. Poderosa Psiquiatria - a Neo Inquisição! Sabe? Argumente em vez de usar dos mesmos meios que favelados, ignorantes, pior, sem direito à defesa para a parte "fraca". Tratamento ou punição?
Vítima nunca fora. Nem culpada por tudo que a acusaram e puniram. Talvez esteja devendo pecado, assim como a maioria dos pacientes psiquiátricos. Você nasce, cresce, faz o que pode, alguns se esforçam mais a favor da humanidade. Mesmo entre esses, não estão imunes ao exílio, excomunhão ou o que quiser chamar da condição de perda de cidadania, cristão ou pertencente à tribo ou mesmo à espécie humana. Homo sapiens? É piada? Então por que não Homo stupidus?
"Não é medida de saúde adequar-se a uma sociedade profundamente doente." (Krishnamurti)
Profissionais no pedestal pensando que fazem muito mais que Jesus Cristo. Psis geralmente. Sabe-se bem por onde passam em sua educação profissionalizante. Pois talvez devessem ter uma semana de residência vivendo como internos num hospital para doentes mentais se for a especialidade escolhida e sem que a equipe do hospital fique sabendo antes de poderem trabalhar com tais pacientes. Seria intrigante filmar a "queda do salto alto", de fato seria cômico. Não sabem o quanto suas pequenas loucuras cotidianas parecem-se com as dos pacientes que vivem há quarenta anos dentro da" caixa".
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Tania Montandon
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