- Obrigada... Presidente Jânio!
Naquela manhã fria do Domingo curitibano, a professora Maria Estrela Carvalho recebia do chefe da Nação a Comenda da Ordem Nacional do Mérito.
Em 1925, na mesma escola onde agora se realizava a cerimônia - o Grupo Escolar Conselheiro Zacarias, na capital paranaense - ela ensinava o bê-a-bá a Jânio Quadros. Depois de trinta e seis anos (a mestra aposentada e o ex-aluno feito Presidente da República) os dois voltaram a se encontrar.
Foi a parte sentimental do roteiro de Jânio em sua visita ao Paraná onde inaugurou a Universidade Volante do Estado. Como fazia quando menino, Jânio foi até o grupo a pé. A professora mineira, na época com 79 anos de idade, evocava:
- Se não me engano, ele sempre vinha à escola acompanhado pela irmã.
Nascida em Volta Grande, no Estado de Minas Gerais e diplomada em Juiz de Fora, o casamento transferiu D. Maria Estrela para o Paraná, no ano de 1917.
- Jânio foi meu aluno em 1925 - conta ela acariciando a medalha. Lembro-me de que naquele tempo a família Quadros morava na rua 13 de Maio, no Centro de Curitiba.
A velhinha ajeitou cuidadosamente o chapéu e prosseguiu:
- O eu o caracterizava era uma atitude reservada e ponderada. Talvez por isto, entre tantos alunos que ensinei, me ficasse gravada a sua figura.
Depois de um ano, o Dr. Gabriel Quadros transferiu-se com a família para São Paulo e a professora Maria Estrela não teve mais notícias do antigo aluno. Um dia deteve-se examinando num jornal a fotografia do governador paulista e o reconheceu. Só em 1961, porém, tornaram a encontrar-se. Nem por isso D. Maria Estrela alterou seus sentimentos:
- Considerei sempre meus alunos como verdadeiros filhos, Jânio ainda é um deles.
No final da cerimônia, a professora voltou ao presente e dando conta de que ao seu lado não estava mais o menino de 1925, indagou:
- E a Tutu, como vai?
O Presidente, sorrindo, informou:
- Vai bem! Já tem uma Tutuzinha!
(*) é professor universitário, jornalista e escritor