Pode-se ser si mesma quando só. É isso que se precisa fazer com frequência: pensar, não exatamente, também contemplar, ficar em silêncio…
A existência toda, as atividades, com o que possuem de expansivo, vibrante, contagiante, vozes, gestos humanos esvanecem-se. Então, torna-se possível certa solenidade, retrair-se em si, no cerne pontiagudo das trevas, algo invisível para os outros seres.
Deste modo sente-se o ser autístico patético socialmente, depois de se livrar dos laços, pronto para as excêntricas viagens, aventuras, sonhos, a realidade inventada, considerada pelas pessoas talvez como uma "desrealidade" ou excesso de imaginação faiscado de símbolos intangíveis pela linguagem da razão.
Quando o ritmo da vida diminui por um instante, a amplitude do âmago das experiências torna-se infinita. Todos possuem esse sentido de possibilidades imprevisíveis e ilimitadas.
Sente-se, então, que as aparências, os aspectos que caracterizam cada identidade são simplesmente infantis (de infanto - não fala - inefável) e fundem-se à energia cósmica do Todo. Tudo negro, amplo e incomensuravelmente profundo; contudo horizonte ilimitado, diversos lugares a que não se foi, como planícies da Índia abrem-se sob uma pesada aortina de couro de uma igreja romana. Esse cerne das trevas pode ir a qualquer lugar, pois ninguém o vê. Não se pode deter, enquanto no pensamento incutido.
A liberdade, a paz e - o mais agradável - o poderde recuperação, descanso numa plataforma de estabilidade sobre o solo da concretude, tudo isso lá enleados estão. Mas não como indivíduo que encontra esse repouso, ensina a experiência. Somente como recantos, lampejos de sobra...
Tania Montandon
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