Sinto os espectros à minha volta. Querem matar-me. Medo! Mal-estar!tremomm... tudo por dentro fica dolorido. Provocam formigamentos, pânico. Mamãe está em casa, mas noutro país. Não consigo atingi-la. Estou só em meu mundo. Todos a quilômetros de distância. O corpo apodrece. Preciso aprender a desligar-me dele. Porém é esse o desejo dos espíritos malévolos. Difícil suportar a ambigüidade. Estou a perder o eu. Invadem minha consciência e fazem-se passar pelo que antes era o eu. Grande medo!
Sensação fervorosa e quente do inferno recente. A alma ferve por baixo da terra úmida, por baixo da cidade, por baixo da dignidade. Queimam a face lânguida, os gestos morosos, a carne criminosa. Apodrecem os ossos preguiçosos, os cabelos orgulhosos, as unhas ríspidas. Perece o ser, germinando ardor, torpor, fedor, pavor. E o carniceiro espírito volta-se para ser altaneiro mentor, rei rasteiro da difusão da dor.
Há pouco sentei-me na janela como de costume, apreciando vagarosamente o pôr-do-sol fantástico – cinza, azul, laranja, amarelo e vermelho, doce e pacificador, saboreando um Chanceller, sentindo o suave gosto do tabaco e açúcares entre meus lábios e me esforçando para fazer círculos de fumaça. Malogro!
Quão difícil é a vida: apavorante, inexplicável, incalculável. Tanto medo... sofrer... medo de mim mesma. Às vezes nem me reconheço sob minha pele, tamanha minha falta de controle sobre ela.
A hora de dormir chega e, junto, o desamparo. O receio de me entregar á inconsciência, a tristeza por constatar que mais um dia se passou e o tempo não espera; a agonia aumenta. Nem consigo rezar. Sinto-me distante da religião que me ensinaram. Ela não mais me propicia alívio reconfortante como o fazia antes. Não tenho a que me ligar. Nada prende meu interesse ou me propicia qualquer júbilo. As coisas não fazem sentido, apenas seguem seu rumo, transitoriamente... e eu, sem prumo, sou leveda pelo vento da desilusão e melancolia, com destino ao incerto.
Eu quero morrer porque não agüento a dor lancinante que sinto no peito e todas as vezes que alguém fala comigo sinto que explodirei. É ruim! Falta-me habilidade para viver. Por que isso acontece? Como as pessoas podem gostar de viver?
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Tania Montandon
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