Com a saúde não se brinca, diz o ditado. Lula brinca com tudo, mas foi contrariado e recebeu os primeiros atendimentos longe da UPA de que tanto havia gostado. Dormiu na suíte triplex do Real Hospital Português, uma instituição privada. Nada contra esse cuidado. A saúde de Lula é uma questão de Estado. O problema não está no zelo com o presidente, mas num sistema público que não consegue suprir demandas básicas dos brasileiros.
O Datafolha mostrou há um mês que a saúde é a área de pior desempenho do Governo: 24% da população acha isso. No início de 2003, apenas 4% tinham essa opinião. Da mesma forma, a saúde é o principal problema do país para 27%, seguido pela violência, com 16%. No início de 2003, 6% achavam isso. Há, portanto, uma percepção popular muito clara de que a saúde piorou sob Lula.
Especialistas chamam a atenção para o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde, o SUS, que teria se agravado. Faltam vagas em hospitais, faltam médicos. Um exame laboratorial pelo SUS para diagnosticar um câncer pode levar seis meses, até um ano. A morte muitas vezes chega antes. Mas cerca de 150 milhões de brasileiros estão condenados ao atendimento precário do SUS. O sistema foi concebido, no entanto, para atender a todos, gratuita e integralmente, conforme o sonho da Constituição de 1988, que decretou uma sociedade do bem-estar de nível nórdico num país com nível de renda que era um décimo do europeu.
Cerca de 40 milhões de pessoas pagam por planos privados, temendo os horrores da saúde pública. Pagam para fugir da UPA e ficar mais perto de Davos, mesmo no Brasil.