A instalação da Comissão da Verdade e Justiça mostra que não tem limites o cinismo e a hipocrisia daqueles que querem comparar e igualar a luta democrática com a repressão. Fora o fato de que aqueles que lutavam ao lado da Lei e da Constituição foram presos, cumpriram penas, quando não foram torturados, assassinados, desaparecidos, exilados, perderam tudo -  família, filhos, emprego - e tiveram que viver longe da pátria. Tudo por lutar pela democracia.

Todo o resto é ridículo, inclusive porque nos coloca no passado como país e nação. Todos os países que sofreram ditaduras -  Espanha, Grécia, Portugal, Chile, Argentina, Uruguai, para citar alguns - constituíram Comissões da Verdade e Justiça. Com elas apagaram os símbolos dos regimes ditatoriais, julgaram os que praticaram crimes e condenaram os que torturaram e assassinaram.

Agora mesmo um Tribunal Internacional julga como criminosos de guerra os ditadores que na Sérvia governavam há alguns anos. Na Espanha novas medidas foram tomadas para apurar os crimes da Era Franquista. No Brasil não é nem isso que se pretende. Apenas repor a verdade, resgatar a memória, esclarecer o paradeiro dos desaparecidos, o que lhes aconteceu, apagar da memória do país os símbolos da ditadura deixando para a Justiça o caso dos torturadores e assassinos.

Nem isso aceitam! Querem chantagear o presidente da República ameaçando o país com um simulacro de crise militar, num sinal de que os militares - parte deles ou sua cúpula - resistem à democracia e ao papel constitucional das Forças Armadas. Os que assim agem insistem em se manter como um poder autônomo preservando concepções, doutrinas, formas de organização e educação da era da ditadura militar, sem fazer a devida transição - como todo o país fez - pacífica e democraticamente.

Nao dá mais para aceitar. Basta!