Vejamos o caso de Juiz de Fora. Em 2009, teve até "árvore cantante": uma estrutura com nove metros de altura e sete degraus, para até 160 cantores. Serviu de palco para a apresentação de 19 corais e bandas de diferentes instituições culturais, educacionais e religiosas. Um espetáculo mágico para moradores e turistas de todas as idades... e com entrada franca.
Franca? Bem, depende do ponto de vista. O orçamento total do Natal de Juiz de Fora foi de R$ 412 mil, dos quais R$ 315 mil saíram dos cofres públicos da prefeitura (R$ 22 mil vieram da Câmara Municipal, R$ 30 mil da Cemig e R$ 45 mil da Caixa Econômica Federal).
Segundo o prefeito Custódio Mattos (PSDB), foi um Natal econômico. "Neste ano de contenção de gastos, a Administração Municipal buscou valorizar, em toda a programação e na decoração de ruas e praças, os valores representativos do Natal na tradição cristã, de promoção da fraternidade e solidariedade", argumentou.
Bem, se é tempo de "contenção de gastos", inevitável saber a representatividade dos R$ 315 mil dentro da administração municipal de Juiz de Fora. Vejamos dois exemplos:
1º) Em agosto deste ano, a prefeitura alugou, em caráter emergencial, 12 caminhões para a coleta do lixo urbano, substituindo outros seis de uma empresa que teve o seu contrato encerrado. O acordo firmado é de seis meses, com custo mensal, por caminhão, de R$ 11,8 mil (R$ 141,6 mil/mês). Ou seja, a verba natalina daria para bancar dois meses de contrato. Sobrariam mais de R$ 30 mil.
2º) Também em agosto último, a prefeitura recebeu da União cerca de R$ 270 mil, destinados à implantação de três coletores de esgoto da zona norte da cidade, melhorando um pouco o sistema atual. Se fosse pelos recursos do Natal, sobrariam quase R$ 45 mil.
Para terminar, uma curiosidade: o tempo é de "contenção de gastos", nas palavras do prefeito, mas você sabe quanto a prefeitura gastou em publicidade em 2009? Bem, só até setembro, foram desembolsados R$ 835.799,84. Dinheiro que pagaria dois Natais deste ano, sem precisar nem mesmo dos patrocinadores... e sobraria dinheiro.
Heitor Diniz
Jornalista
Belo Horizonte/MG
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