O jornalista, no entanto, tem razão ao cobrar irreverência da Escola de Samba Beija Flor cujos dirigentes têm reafirmado que, a despeito do enredo para o Carnaval 2010 ser “Brilhante ao sol do Novo Mundo, Brasília a capital da esperança”, a agremiação de Nilópolis não retratará nada dos atuais escândalos de corrupção envolvendo o governo estadual do Distrito Federal, cujo imbróglio a imprensa está apelidando de ‘mensalão do DEM' em alusão ao partido do governador José Roberto Arruda. Para o carnavalesco Joãosinho Trinta “os dirigentes da Beija Flor estão errados, não precisa radicalizar, basta pôr pelo menos uma alegoria simbolizando um panetone gigante”; se referindo à dinheirama da corrupção alegada pelo governador que seria para comprar panetone para os pobres.
Como não sou sectário, também concordo com o jornalista na crítica à parte do samba-enredo da Portela no ele chama de ode (composição em versos para ser cantada) exaltando programas governamentais, que supostamente estariam trazendo maravilhas da tecnologia ao povo trabalhador das favelas cariocas. Assim como à troca de última hora dos versos “Faz da criança um cidadão pro futuro da nação” para “Faz da criança um cidadão Positivo pra nação”. Numa tentativa de angariar fundos de uma fabricante de computadores. E ao amontoado de versos propagandísticos de uma cervejaria no 1º refrão do samba-enredo da Grande Rio “Grande Rio eu sou, guerreiro/ sou brasileiro e faço o meu ziriguidum/vibra, arquibancada, explode!/O camarote número 1”.
Para o jornalista no Carnaval carioca está sobrando reverência, faltando irreverência! E aí, como ele não pode apontar as verdadeiras causas do afastamento dos desfiles por parte do povo trabalhador em detrimento da burguesia (dentre a qual a de turista estrangeiro) ele faz desnecessárias indagações a si próprio sobre isso, queda na vendagem de discos e no que ele chama de procura (na realidade venda) de fantasias. Tudo porque, segundo ele “ninguém acha graça nesses sambas oficialescos”. Ainda segundo o intelectualizado jornalista “o povo quer se divertir, ouvindo letras inspiradas, fruto da liberdade criativa dos compositores – enfim ir para a Sapucaí com fantasia de rei ou de mendigo, mas nunca travestido com a marca de um patrocinador”.
Como diria o já mencionado carnavalesco, o intelectualizado jornalista faz um apocalíptico alerta às agremiações cariocas “o interesse cada vez menor do povo e até de turistas, deve-se à perda do prestígio cultural das Escolas de Samba presas às amarras de compromissos assumidos com A ou B (sic) esse fenômeno vai se acentuar”. Profético, o jornalista conclui “Ainda é tempo de revertê-lo. Carnaval é arte, é transgressão, é bom humor, é festa popular. Se ele se afasta de suas características mais genuínas e vira um espetáculo ‘chapa branca', se afasta do povo”. Já eu propugno a estatização do Carnaval, cabendo à LIESA a honroso poder de fiscalização de toda a verba pública aplicada na concepção, organização e execução nela inclusa a comercialização e o turismo.
Para ler o texto do jornalista Leonardo Bruno clique sobre o link-título abaixo:
Artigo: 'O carnaval chapa branca'
*jornalista – amante de Carnaval, das agremiações e de sambas é torcedor portelense.