2. O padrão eleitoral chileno não somente está envelhecido, mas notifica invariavelmente as relações de força eleitoral originadas nos resultados do plebiscito de 1988, onde ganhou o NÃO contra a continuidade do pinochetismo.
3. Para ninguém resultam desconhecidas as distintas "almas" e tendências que existem no interior da Concertação. Até a vitória eleitoral de Bachelet conseguiram manter-se atadas. No entanto, nas últimas eleições se expressaram orgânica e diferencialmente através de três candidatos provenientes de suas filas. É provável que os privilégios do poder os reúna em torno ao candidato Eduardo Frei Ruiz-Tagle, por meio de concessões na partilha de cargos e aspectos programáticos. Pelo menos o atual presidente do Partido Socialista, Camilo Escalona, terá que sair; e integrar aspectos da agenda social liberal do candidato Marco Enríquez-Ominami. A direção do Partido Comunista já obteve o que buscava: contar com a presença no parlamento com os votos da Concertação em três distritos. Nesse sentido, em nenhum caso o sistema binominal consagrado na Constituição da ditadura militar de 1980 será destruído. O que acontece é que a Concertação se estende moderadamente para a esquerda tradicional.
4. No segundo turno, em 17 de janeiro de 2010, os eleitores deverão enfrentar a disjuntiva entre a velha direita e a nova direita concertacionista, capitaneada pela Democracia Cristã e ampliada até a direção do Partido Comunista. Ambas as frações do bloco no poder -Aliança por Chile e Concertação- atuam como a casta política administradora da estratégia imperialista e o capitalismo mais selvagem. O certo é que sob essas circunstâncias, os grandes perdedores foram os interesses dos trabalhadores e dos povos.
5. Além dos resultados eleitorais, o Chile ficou sem a oposição política de uma esquerda que apresente uma alternativa genuína e não capitalista para as grandes maiorias. Portanto, essa oposição de esquerda tem que ser construída com ímpeto, clareza programática, táticas simbólicas e midiáticas que atinja o sentido comum do povo trabalhador. A renacionalização do cobre, dos bancos e dos recursos naturais, a industrialização urgente, a defesa consequente do meio ambiente e a destruição de toda forma de discriminação (de gênero, povos originários, comportamento sexual, migrantes) e o crescente protagonismo popular nos destinos históricos do país são materiais centrais para enfrentar o período a partir da esquerda anticapitalista frente à hegemonia das classes dominantes, da cultura da resignação, dos patrões e do medo.
6. Que fique claro: em termos estratégicos, os três candidatos provenientes da Concertação representam a manutenção transitória do atual estado de coisas, da mesma forma que o candidato da direita tradicional, Sebastião Piñera. Desde a base, as diferenças correspondem a matizes que jamais tocam as estruturas de poder e classe que sustentam a desigualdade mais odiosa, a exploração e a opressão. O candidato Arrate foi o facilitador para a ampliação da Concertação em direção ao Partido Comunista, com a pretensão de consolidar as atuais formas de dominação e "governabilidade"; ME-O capitalizou o descontentamento generacional ante a velhice das camarilhas dos partidos políticos no Executivo há 20 anos, sem questionar substantivamente seu projeto antipopular; e Frei garantiu a continuidade concertacionista. Nada variou de forma considerável. Sem movimento popular articulado, em luta e condução política emancipadora, o quadro geral permanecerá relativamente intacto. Daí emanam as tarefas e as políticas da esquerda anticapitalista no Chile. Com o chamado Voto Nulo, o Movimento dos povos e dos Trabalhadores tenta contribuir de maneira significativa para a formação de um novo bloco de esquerda, propositivo programática e politicamente, e opositor ao punhado de poderosos que hegemoniza as relações sociais descompensadas no país a favor dos poucos privilegiados que mandam e seus representantes políticos aparentemente "distintos".
7. O socialismo anticapitalista existente no Chile tem mandato político e ético para intensificar sua atuação unitária, sua ampliação, sua mensagem e suas lutas profusamente desde e com os trabalhadores e os povos. Não existe outra eleição possível para as mulheres e homens dignos do país que buscam a edificação de uma sociedade de iguais e livres.