ELEIÇÕES NO CHILE

1. Nas eleições presidenciais e parlamentares do dia 13 de dezembro passado, dos mais de 12 milhões de chilenos/as de mais de 18 anos e, portanto, habilitados a votar, somente se apresentaram 6.539.570 pessoas. Mais de 8 milhões estão inscritos nos registros eleitorais; porém, muito mais de um milhão simplesmente não se apresentaram às respectivas mesas de votação. 200 mil pessoas anularam seu voto e mais de 80 mil votaram em branco. Isto é, 47% dos potenciais eleitores em idade de votar não o fizeram. A crise de representatividade da atual democracia tutelada que administra o país há 20 anos é um fato inquestionável. No Chile, a concentração da propriedade, por um lado, e a desigualdade em todos os níveis, por outro, são os resultados que melhor caracterizam aos governos da Concertação. Isso pode ser observado através da falta de oportunidades da juventude popular, do incremento da delinquência e do uso de drogas; do desemprego e da instabilidade no trabalho; da péssima educação e saúde dividida pela capacidade de pagamento e submissa à lógica mercantil do lucro. Em suma, o país não se democratizou e não há avanços em termos de progresso e justiça social.

2. O padrão eleitoral chileno não somente está envelhecido, mas notifica invariavelmente as relações de força eleitoral originadas nos resultados do plebiscito de 1988, onde ganhou o NÃO contra a continuidade do pinochetismo.

3. Para ninguém resultam desconhecidas as distintas "almas" e tendências que existem no interior da Concertação. Até a vitória eleitoral de Bachelet conseguiram manter-se atadas. No entanto, nas últimas eleições se expressaram orgânica e diferencialmente através de três candidatos provenientes de suas filas. É provável que os privilégios do poder os reúna em torno ao candidato Eduardo Frei Ruiz-Tagle, por meio de concessões na partilha de cargos e aspectos programáticos. Pelo menos o atual presidente do Partido Socialista, Camilo Escalona, terá que sair; e integrar aspectos da agenda social liberal do candidato Marco Enríquez-Ominami. A direção do Partido Comunista já obteve o que buscava: contar com a presença no parlamento com os votos da Concertação em três distritos. Nesse sentido, em nenhum caso o sistema binominal consagrado na Constituição da ditadura militar de 1980 será destruído. O que acontece é que a Concertação se estende moderadamente para a esquerda tradicional.

4. No segundo turno, em 17 de janeiro de 2010, os eleitores deverão enfrentar a disjuntiva entre a velha direita e a nova direita concertacionista, capitaneada pela Democracia Cristã e ampliada até a direção do Partido Comunista. Ambas as frações do bloco no poder -Aliança por Chile e Concertação- atuam como a casta política administradora da estratégia imperialista e o capitalismo mais selvagem. O certo é que sob essas circunstâncias, os grandes perdedores foram os interesses dos trabalhadores e dos povos.

5. Além dos resultados eleitorais, o Chile ficou sem a oposição política de uma esquerda que apresente uma alternativa genuína e não capitalista para as grandes maiorias. Portanto, essa oposição de esquerda tem que ser construída com ímpeto, clareza programática, táticas simbólicas e midiáticas que atinja o sentido comum do povo trabalhador. A renacionalização do cobre, dos bancos e dos recursos naturais, a industrialização urgente, a defesa consequente do meio ambiente e a destruição de toda forma de discriminação (de gênero, povos originários, comportamento sexual, migrantes) e o crescente protagonismo popular nos destinos históricos do país são materiais centrais para enfrentar o período a partir da esquerda anticapitalista frente à hegemonia das classes dominantes, da cultura da resignação, dos patrões e do medo.

6. Que fique claro: em termos estratégicos, os três candidatos provenientes da Concertação representam a manutenção transitória do atual estado de coisas, da mesma forma que o candidato da direita tradicional, Sebastião Piñera. Desde a base, as diferenças correspondem a matizes que jamais tocam as estruturas de poder e classe que sustentam a desigualdade mais odiosa, a exploração e a opressão. O candidato Arrate foi o facilitador para a ampliação da Concertação em direção ao Partido Comunista, com a pretensão de consolidar as atuais formas de dominação e "governabilidade"; ME-O capitalizou o descontentamento generacional ante a velhice das camarilhas dos partidos políticos no Executivo há 20 anos, sem questionar substantivamente seu projeto antipopular; e Frei garantiu a continuidade concertacionista. Nada variou de forma considerável. Sem movimento popular articulado, em luta e condução política emancipadora, o quadro geral permanecerá relativamente intacto. Daí emanam as tarefas e as políticas da esquerda anticapitalista no Chile. Com o chamado Voto Nulo, o Movimento dos povos e dos Trabalhadores tenta contribuir de maneira significativa para a formação de um novo bloco de esquerda, propositivo programática e politicamente, e opositor ao punhado de poderosos que hegemoniza as relações sociais descompensadas no país a favor dos poucos privilegiados que mandam e seus representantes políticos aparentemente "distintos".

7. O socialismo anticapitalista existente no Chile tem mandato político e ético para intensificar sua atuação unitária, sua ampliação, sua mensagem e suas lutas profusamente desde e com os trabalhadores e os povos. Não existe outra eleição possível para as mulheres e homens dignos do país que buscam a edificação de uma sociedade de iguais e livres.
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