Muito embora seja possível intuir que recordação e premonição estejam confundidas num círculo fechado do tempo, cuja natureza, embora ainda impenetrável aos avanços da Física, já é objeto de teorias que incluem tal possibilidade.
Seja como for, parece existir no homem um pressentimento dessa finitude. Platão não estava alheio a isso quando afirmou: “A humanidade é o homem em ponto grande.” Portanto mortal.
Fiquemos porém, com os fatos: sabe-se hoje que as espécies surgem, evoluem e desaparecem, e de tal regra não se conhecem exceções.
Assim como, até onde se conhece, a partir do Pleistoceno, o tempo médio de vida das espécies conhecidas de mamíferos tem sido de 350.000 anos. E também não há registro do aparecimento de qualquer espécie nova nos últimos 75.000 anos. Quer isto dizer, que em escala planetária, não nos resta muito tempo.
A objeção feita a tal prognóstico sombrio, é a de que o homem não deve ser considerado mero agente passivo da evolução. Mercê da ciência e da tecnologia que logrou desenvolver, pode hoje prever situações futuras e antecipar-se a elas, usando em seu benefício o conhecimento das leis naturais.
É mesmo assim?
A julgar pelas recentes declarações do responsável pelo setor de estudos climáticos da ONU, não nos temos saído muito bem no papel que nos arrogamos, de responsáveis pelo futuro do planeta, do qual, nos acreditamos donos e senhores.
Segundo se vê da referida entrevista, a situação atual só pode ser comparada com aquela de 60 milhões de anos atrás, quando um meteoro caiu na península de Yucatan, ocasionando a última extinção em massa de espécies, dentre elas, as dos dinossauros.
Tais afirmativas vem de ser corroboradas pelas conclusões da recente conferência internacional sobre o clima, realizada em Londres. Parece haver unanimidade sobre a previsão de que, em oitenta anos, o efeito estufa provocado pela queima de florestas e combustíveis fósseis, somado ao subproduto das indústrias liberado na atmosfera, elevará em dois graus Celsius a temperatura do planeta, levando também à extinção em grande escala das formas de vida conhecidas, em proporções nunca vistas. Sem falar da participação ativa e direta do homem em tal mister, como pode ser observado nos dias atuais.
Isso, enquanto a nação líder do mundo, responsável por um terço da poluição global, não apenas se recusa a assinar o protocolo de Kioto – aliás, inócuo – como cuida, dentre outras ações predatórias, de instalar um museu onde se tenta impingir aos seus cidadãos que a bíblia está correta, e que a teoria da evolução não passa mesmo de teoria... De acordo com o novo obscurantismo imperante, o mundo teria sido criado em seis dias, e Adão e Eva conviveram com os dinossauros. Forma de agradecimento do governo eleito aos evangélicos. O planeta? Dizem que vai muito bem, obrigado. O problema é que esqueceram de avisar a natureza.
Um lúcido cientista inglês, dos poucos generalistas existentes, publicou a assustadora teoria de Geia. Segundo a qual, o planeta possui uma “vontade”, que visa manter o equilíbrio. Quando o mesmo é alterado, reage, visando recuperá-lo.
Certa ou errada a teoria, nenhuma dúvida existe de que o homem vem-se comportando como se fosse um “câncer de pele” na superfície da Terra. E basta prestar atenção aos noticiários para perceber que “Geia” começou a reagir à nossa presença.
Veja-se, no Brasil, o crescente desequilíbrio do clima, com o aparecimento de ciclones no litoral de Santa Catarina, fato inédito na costa brasileira. Secas no sul e nordeste, junto com a pior enchente dos últimos cem anos na guiana. Além de diversas outras anomalias. Tudo, apenas no ano de 2005.
Fotos do Kilimandjara, na África, tomados com diferença de apenas cinco anos, mostram a proporção do degelo, que também ocorre nos Alpes suíços. As calotas polares experimentam o mesmo fenômeno. De acordo com as projeções aceitas pelos cientistas do clima, o nível dos oceanos subirá algo como dois a três metros, somente neste século, inviabilizando um sem número de cidades litorâneas.
Os grandes bancos de coral sofrerão danos, causados pela alteração da composição da água e da luminosidade, que poderá acarretar também a diminuição dos plânctons, base global da cadeia alimentar. A vida marinha, assim afetada, repercutirá nas demais espécies que dependem do mar para sua alimentação, incluindo o homem.
É apenas a ponta do iceberg. Estudos recentes sobre as camadas profundas de gelo existentes na Groelândia, nos advertem que as eras glaciais mais recentes foram também precedidas por períodos de aquecimento como o atual.
A explicação que encontram, deduzida de experimentações em laboratórios, é a de que o aumento da água doce nos oceanos, ao diminuir-lhes o grau de salinidade, inibe também o fenômeno químico que dá origem às correntes marinhas, como a do Gulf Stream.
A conseqüência da paralisação dessa corrente transportadora das águas quentes do equador para o norte da Europa, deflagraria, em duas ou três décadas, uma nova idade glacial a partir do hemisfério norte.
Eis condenada a civilização humana, tal como a conhecemos. Regiões habitáveis surgirão de desertos, enquanto terras férteis verão o avanço das geleiras, como antes aconteceu. Desnecessário prosseguir.
Mas não seria esta a única espada pendente sobre a orgulhosa cabeça desta nossa humanidade.
Outro fato conhecido pela ciência, embora pouco divulgado, é o da diminuição do magnetismo terrestre, desde a sua primeira aferição, a cerca de 400 anos. A partir de então, observou-se uma redução em sua força, não menor que 35 por cento. Estudos geológicos feitos em rochas antigas, mostram que também este fenômeno não é inédito, e que já antes a terra experimentou inversões de sua polaridade.
Embora não haja previsões conhecidas sobre a época da próxima inversão, é certo que um magnetismo fraco não apenas destruiria uma civilização baseada na eletricidade, como nenhum ser vivo seria capaz de sobreviver à queda dos escudos magnéticos da Terra, que barram a entrada dos raios solares.
Como se vê, a posição do homem e da civilização que criou, não é tão confortável como seria de supor. A verdade é que acabamos por entrar na armadilha que nós mesmos fabricamos. Em síntese, não podemos mais sobreviver sem a civilização que criamos. Nem com ela.
De tal sorte que o futuro nada tem de animador, ao contrário do que digam e prometam os governos e os interesses comerciais. Pois o fato é que a espécie humana continua aumentando em número e necessidades de espaço e energia. E, sendo inevitável que cada indivíduo que nasce, necessite apropriar cada vez mais desses recursos, o problema do meio ambiente só pode se agravar.
O que não significa estarmos condenados a desaparecer da face da terra, por efeito dos fenômenos a que demos causa. Seria fazer pouco da nossa capacidade comprovada de sobreviver. Se a natureza criou um ser capaz de adaptar-se às mais diversas situações ambientais, este ser é o homem. Veja-se que há 75.000 anos, a explosão de um super-vulcão no Pacífico teria deixado o homem nos limites da extinção, conforme informa a biologia.
Recentes estudos sobre a mitocôndria – relógio biológico existente nas células – concluíram pela existência de um “gargalo genético”, coincidente com tal período. Quer isto dizer, que há 75.000 anos existiriam apenas cerca de 5.000 exemplares humanos no planeta, o que explicaria a não existência de variedades na espécie.
O fato é que conseguimos sobreviver ao que quer que tenha ocorrido. Sem falar dos posteriores períodos glaciais, fome e doenças.
Já foi dito que tudo que o homem realizou de importante, o fez por necessidade, antes de qualquer outro motivo.
Confrontado com novas vicissitudes, ele resistirá. Certamente, os problemas que se avizinham vão obrigar a um tipo de civilização possível num planeta em rápida transformação. Talvez, apressar a colonização de outros mundos, como antes o fizeram nossos ancestrais, que deixaram a África e conquistaram o planeta com os parcos recursos de que dispunham.
Para tal, poderemos ser obrigados a alterar nossa própria biologia, adaptando-a, quem sabe, às condições existentes fora da Terra. O que disso resultará, pertence ao terreno das especulações e da ficção.
O certo é que tudo indica estarmos próximos de escrever um novo capítulo da fascinante aventura do homem.