Juca Ferreira, carona aérea, verbas indenizatórias e os óculos perdidos de Drummond

Juca Ferreira, atual ministro da Cultura, não caiu de paraquedas em sua atual cadeira. Já era o braço direito de seu antecessor, Gilberto Gil, até que a saída do bom baiano abriu espaço para outro baiano, digamos, inicialmente bem intencionado.

Alçado à interinidade por Lula e, logo depois, oficializado como titular da pasta, Juca Ferreira não demorou a aprender uma cartilha muito adotada recentemente pelo seu chefe imediato. Uma cartilha que, ao que tudo indica, deve fazer constar em seu artigo único: "Se algum escândalo vazar na mídia, faça uso da mesma para atacá-la e descaracterizá-la, e atribua a notícia indesejada a algum tipo de denuncismo barato e/ou arquitetado".

Eis então que chegou a hora do ministro fazer uso da tal cartilha para (tentar) legitimar uma outra cartilha, aquela intitulada "Vota Cultura". Duplamente ilegal, por ser eleitoreira e por ferir grosseiramente princípios elementares da moralidade pública. Moralidade, aliás, que é, por si só, um desses princípios.

E eis também que ninguém ousou ser mais grosseiro e desprovido dos mais elementares princípios, não da Administração Pública, mas da educação e dos bons costumes, requisitos ainda mais básicos e ainda mais elementares do que a própria política.

Pois veja aí, caro leitor, a declaração dada por Juca Ferreira:

Aviltante, nauseante, revoltante, desproporcional, desmedida, inapropriada, infeliz... os adjetivos para tal declaração são os mais numerosos.

Pois todos os adjetivos acima servem também para a conduta do ministro no episódio: primeiro, mentindo a parlamentares do Congresso que seu ministério não tivesse responsabilidade pelo folder "Vota Cultura". O material apresenta os nomes de 250 deputados da frente parlamentar suprapartidária de apoio à cultura e uma emblemática e mal redigida frase: "Apoie o parlamentar do seu estado que vota pela cultura". Pouco depois, Juca foi obrigado a retroceder, reconhecendo que os R$ 11 mil gastos na impressão saíram sim de sua pasta.

Não satisfeito com a desastrosa condução do episódio e tampouco realizado com o vocabulário chulo, atacou a imprensa por ser reverberadora de uma "coisa menor".

A expressão "coisa menor" é tão chula e infeliz quanto toda a declaração, além de ser também, no mínimo, reveladora: se os tais R$ 11 mil gastos, inicialmente negados e depois admitidos, são "coisa menor", não seria errado se pensássemos que Juca Ferreira talvez fosse bom conhecedor de "coisas maiores", não necessariamente da sua pasta, mas do todo, que sim justificassem (em sua concepção) todos os holofotes e microfones a cercá-lo naquele instante. 

A propósito, e paralelamente, o jornal Folha de S. Paulo trouxe em sua edição da última quarta-feira "bons" exemplos dessa mentalidade tacanha, grosseiramente defendida por Juca Ferreira, do pouco ou nenhum apreço pela moralidade pública. Como, por exemplo, na carona que o filho de Lula e sua trupe de 15 convidados pegaram em um avião da FAB, desviado à conveniência de interesses privados. Ou como a notícia de que é quase consenso na Câmara Federal que as denúncias de mau uso da verba indenizatória não resultarão em qualquer punição, tal é a generalização da prática.

Coisas menores, muitas de suas excelências diriam. Suficientes talvez para que comecemos a nos acostumar com um último exemplo, levantado no artigo de Fernando de Barros e Silva: a figura de bronze de Carlos Drummond de Andrade, colocada no calçadão de Copacabana, já teve seus óculos arrancados pela sétima vez desde 2002, a ponto da prefeitura carioca desistir de recompor a figura. Afinal, quem vai se importar com a coisa pública diante de tão estrondosos exemplos?

E por falar em coisa pública e exemplos, seria digno se Juca Ferreira não perdesse jamais a referência daqueles que talvez sejam sua maior inspiração: o pai, que lidava com a coisa pública como construtor de estradas, e a mãe, dona de casa, mas professora por formação, que certamente não economizou esforços para que o filho sempre tivesse a melhor educação.

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