Questionado sobre essa estranha teoria de início da História, sobre a luta de pessoas que ele conhecia e que sofreram perseguição dos militares, sobre as torturas e assassinatos de líderes operários quando ele já estava no Brasil, explicou que o anúncio de um novo salvador era mais importante do que o passado. Para ele tudo começava com a chegada de Lula. Este sentimento contagiou muita gente e hoje é quase uma verdade.
Entronizado o messias nordestino com o aval das comunidades eclesiais de base, de intelectuais sobreviventes da ditadura militar e do “novo sindicalismo”, o Partido dos Trabalhadores nasceu como o guardião da ética, o dono da verdade e a única esperança dos oprimidos para a implantação do socialismo no Brasil. Era a luta do bem contra o mal, o maniqueísmo. O radicalismo era tão exacerbado que os poucos representantes que tinha na Câmara Federal não compareceram à reunião do Congresso que elegeu Tancredo Neves em 1985. Os que dissentiram foram expulsos (excomungados, não fica mais apropriado?).
A transformação do PT em um partido igualzinho aos outros foi muito rápida. Começou com a conquista de algumas prefeituras de cidades grandes, São Paulo e Belo Horizonte, principalmente, de uns poucos governos estaduais até chegar à primeira eleição de Lula. A prioridade passou a ser a manutenção do poder. Os “acertos” com o poder econômico (banqueiros e empreiteiros, principalmente) foram fáceis, questão de porcentagens e de juros. Manter a aprovação popular tornou-se indispensável. A propaganda é a solução. Qualquer Duda dá conta disso. É só pagar bem. Se for feito um levantamento sério dos gastos com publicidade (os explícitos e os ocultos através de empresas e autarquias) será fácil afirmar que “nunca antes neste país” se investiu tanto em propaganda de governo. O “talento” de Lula sempre facilitou o trabalho dos marqueteiros. Mas, e a verdade que o PT defendia? Para quem acha que é aceitável uma parceria com Judas, fica fácil concordar com Pilatos, afinal “o que é a verdade?”.
Os movimentos sociais foram sendo cooptados pela propaganda, pelas verbas públicas e pelos empregos. Os sindicatos e suas centrais transformaram-se em correias de transmissão do governo e seus dirigentes não se diferenciam dos “pelegos” dos tempos do Estado Novo. Hoje são diretores de estatais com altíssimos salários, ou ministros, ou assessores com a única função de defender o governo. O número de cargos de confiança cresceu assustadoramente e há um verdadeiro exército de cabos eleitorais mantido com dinheiro público. Eles são facilitadores ou partícipes de esquemas de corrupção, como tem alertado a organização Transparência Brasil. Se a isto somarmos as consultorias, um capítulo a parte, poderemos começar a compreender aonde chegamos e a estratégia de transformar as próximas eleições em plebiscito. De um lado Lula, Renan, Collor, Sarney, Judas, Pilatos, Maluf representando o Bem. Do outro lado os representantes da “herança maldita”. Será que pensam que somos mesmo tão idiotas?
Antônio de Faria Lopes é Advogado