Três dias antes da provável decisão do STF sobre a concessão ou não de refúgio ao italiano Cesare Battisti, alguns jornalistas, autocredenciados representantes do governo italiano, disparam suas últimas munições na esperança de que o Brasil extradite o antigo militante esquerdista italiano, pouco lhes importando se Battisti irá apodrecer numa prisão ou ser mais um suicida nas penitenciárias italianas. Basta-lhes faturar algum prestígio, tirar sua parte ou pedaço, enquanto a carne o sangue estiverem quentes.
Cesare Battisti não é um ex-ditador, que chega ao Brasil com seu séquito e suas economias, um Marcelo Caetano ou um Strossner que, mesmo depostos, guardavam ainda uma parcela do seu poder e influência, continuando intocáveis. Battisti é um foragido, um antigo militante pé de chinelo, sem influências nas altas esferas do poder que sempre se autoprotegem. Franco-atirador traído, transformado no bode expiatório, não pertence a um partido que o proteja, não tem retaguarda e nem guarda-costas.
Faz um ano e meio, Battisti, que se escondeu no Brasil acreditando na aura protetora do PT e de Lula, está preso de maneira arbitrária, mesmo depois do ministro da Justiça, Tarso Genro, lhe ter concedido refúgio. O objetivo do atual presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, é o de criar jurisprudência contra a concessão de refugio político pelo Brasil a militantes de esquerda. O pior é que tem gente de esquerda reforçando essa política.
Na justificativa da concessão do refúgio, o ministro Tarso Genro, argumentou com o risco de vida caso Battisti seja devolvido à Itália. E o registro, na Itália, de mais um suicídio, o 61º, de uma antiga membro da Brigada Vermelha, confirma as condições a que são submetidos os presos na Itália.
Talvez a chegada de um novo ministro no STF evite que o Brasil de Lula decida entregar à Itália, de Berlusconi e tantos neofascistas, o escritor e pai de família, que nega a autoria dos crimes a ele atribuídos, num processo duvidoso, onde houve mesmo falasificação de assinaturas.
Desde a prisão de Battisti no Rio de Janeiro, assumimos sua defesa, pois acompanhávamos pela imprensa européia sua vida de fugas e perseguições até pensar que tivesse obtido uma proteção segura na França, na época do presidente Mitterrand. Foi um longo caminho, mas hoje uma parcela da esquerda brasileira também defende Battisti, assim como gente apartidária ou de outras tendências políticas, dado o absurdo de se querer punir e liquidar um homem que vive fugindo há 32 anos. O caso tem, portanto, seu lado humanitário.
Esperamos hoje que os dois votos restantes do STF decidam pelo refúgio a Cesare Battisti, para que o Brasil confirme sua tradição de país aberto. (Fonte: Direto da Redação)
* Rui Martins, ex-correspondente de O Estado de S. Paulo e da rádio CBN, atualmente reside na Suíça, colaborando com jornais portugueses e com o site Direto da Redação.