O Pré-sal e a pesca

Já que o Pré-sal, emergido das profundezas, chega à mídia e ao debate nacional, uma questão necessita ser inserida nesta discussão tardiamente iniciada: a pesca, a atividade econômica que mais sofreu com a exploração de petróleo e gás na Bacia de Campos nas últimas três décadas. Um olhar mais minucioso sobre a convivência desastrosa entre as pequenas traineiras e os super-petroleiros e rebocadores na Bacia de Campos, certamente captará um cenário que não pode se repetir na tão promissora exploração da Camada do pré-sal nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo, cuja extensão chega a 800 km de mar piscoso e historicamente explorado por pescadores artesanais. Até agora o debate tem se limitado à divisão dos lucros do pré-sal. Muito pouco tem sido discutido sobre os impactos a mbientais, sociais e econômicos derivados desta exploração. A experiência da Bacia de Campos já reúne subsídios suficientes para um planejamento mais inteligente e responsável, para que não se arruínem atividades econômicas tradicionais, não se formem bolsões de pobreza nos municípios produtores, não se degrade o meio ambiente, e nem exclua o cidadão comum dos benefícios desta atividade.

É preciso identificar os reais efeitos da sísmica no comportamento dos cardumes e minimizar este impacto tão prejudicial aos pescadores. Além dos desafios tecnológicos para a retirada de petróleo e gás de áreas tão profundas, há os desafios para evitar que os peixes desapareçam das áreas onde os testes sísmicos são realizados; para que seja controlada e evitada as invasões de espécies exóticas que devastam os ecossistemas onde são inseridas; para que as plataformas de petróleo em operação não se transformem em atratores pesqueiros com o descarte de resíduos orgânicos, praticamente convidando as traineiras a ingressarem nas perigosas áreas de exploração; para que o CO2 potencial do pré-sal não aumente o déficit ambiental brasileiro em tempos de aquecimento global; e para que as empresas tenham responsabilidade nos municípios onde operarem. Estes são apenas alguns dos desafios para que a exploração do pré-sal seja realmente lucrativa para a sociedade brasileira, muito mais importantes do que os royalties e participações especiais, atualmente em barganha.

O pescador artesanal que tradicionalmente sempre pescou nas águas da Bacia de Campos, foi a classe que mais perdeu com a busca desenfreada pela auto-suficiência nacional de petróleo desde a década de 1980. Ele não só já viu esse filme como atuou nele como o personagem que apanha o tempo todo. Como essa história ganha um novo capítulo com a descoberta das reservas do pré-sal, ainda há esperança de que esse personagem não morra no final.


Fernando Marcelo M. Tavares
Jornalista e ambientalista
fernandomarceloblog.blogspot.com
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