Tentação estatizante

Antes mesmo de a polêmica sobre o modelo de partilha para o petróleo da camada pré-sal ter sido aplacada, o Planalto já está às voltas com outra estratégia na qual não consegue disfarçar suas intenções estatizantes. O mais recente episódio é o constituído por uma série de ataques à mineradora Vale do Rio Doce, envolvendo integrantes do governo e políticos aliados, cujo objetivo óbvio é assegurar maior interferência na empresa, que é privada e, como tantas outras no país, conta com capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. Assim como o modelo estatizante revisto a partir da última década, porém, também essas constantes ingerências no caso da mineradora brasileira precisam ser revistas, para evitar a continuidade de prejuízos na empresa e na economia brasileira.


O recrudescimento deste viés privatizante não se constitui em fato isolado e está longe de ser associado exclusivamente às futuras reservas de petróleo do pré-sal, por meio de um modelo no qual o setor público é que dita as cartas. Graças ao poder que detém sobre alguns dos maiores fundos de pensão no país e respaldado pela atuação do BNDES, o governo federal detém considerável poder de decisão em casos como o do Banco do Brasil, por exemplo.

Recentemente, o governo federal patrocinou a compra da Brasil Telecom pela Oi e participou de negociações pouco ortodoxas no caso da Varig. Mas é a pressão pela ingerência na Vale que chama atenção especial. O Planalto não tem o direito de invocar um suposto interesse nacional para concretizar o esforço de transformar uma empresa como a Vale do Rio Doce, que se constitui num exemplo bem-sucedido de privatização, em mero instrumento político. E é exatamente isso o que ocorre quando interesses privados se misturam aos de governo, o que se constitui no mínimo em brecha para a concretização de uma série de deformações.

Entre as justificativas apontadas no meio oficial para a interferência na gestão da maior mineradora do país está a intenção de ver a empresa dirigida por figuras simpáticas ou subservientes ao poder central. Governistas se queixam também de que a empresa, criticada por ter recorrido a demissões imediatas quando as consequências da crise econômica global se manifestaram no país, contribui pouco para os esforços desenvolvimentistas do governo. Uma das razões seria a opção por se dedicar mais à condição de mineradora do que à produção de aço, menos rentável.

Em épocas recentes, governantes já se aliaram a segmentos mais nacionalistas da sociedade, entre os quais se incluem igualmente pessoas de tendências políticas de esquerda e de direita, para reforçar o papel do Estado na atividade produtiva. Diferentemente do que ocorria até há alguns anos, porém, não há mais espaço no país para esse tipo de visão econômica num mundo globalizado, numa economia de livre iniciativa e numa democracia.

“O sujeito da educação é o corpo, porque é nele que está a vida. É o corpo que quer aprender para poder viver. É ele que dá as ordens. A inteligência é um instrumento do corpo cuja função é ajudá-lo a viver.” (Rubem Alves)
"Estar atento significa estar disponível ao espanto. Sem espanto não há ciência, não há criação artística. O espanto é um momento do processo de pesquisa, de busca. Essa postura de abertura ao espanto é uma exigência fundamental ao educador e à educadora. [...] O espanto não é o medo que ele tem nem é coisa de ignorante. O espanto revela a busca do saber."(Paulo Freire)

 
Nasce o Sol e não dura mais que um dia,
Depois da Luz, se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas, a alegria.
Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se é tão formosa a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?
Mas no Sol, e na Luz falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.
Começa o mundo, enfim, pela ignorância,
Pois tem, qualquer dos bens, por natureza
Firmeza somente na inconstância. 

Roberto Tonet

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