Uma visão psíquica sobre o câncer

A ansiedade, tão presente na vida diária, preocupa muitas pessoas e médicos por ser uma importante ameaça à saúde, além de acarretar problemas pelo uso indiscriminado de drogas, especialmente os tranquilizantes.

Pesquisadores afirmam que dificilmente existe uma doença grave que não tenha causa relacionada com ansiedade profunda. Assim, o câncer pode ter origem nas tensões ou distúrbios emocionais. A depressão e o desespero podem deixar marcas não apenas na mente, mas também no corpo. Algumas pesquisas sobre as causas não-fisiológicas de alguns tipos de câncer identificaram perfis de personalidade em que fatores emocionais tendem a se transformar em doenças malignas.


“A doença é única e puramente corretiva, nem vingativa nem cruel, é o meio adotado pelas nossas próprias almas para nos mostrar os nossos erros, impedir-nos de cometer erros maiores, obstar a que façamos mais mal e trazer-nos de volta ao caminho da Verdade e da luz, do qual nunca deveríamos ter saído.”
Edward Bach

Foi observado que as mulheres melancólicas tinham maior tendência a desenvolver o câncer no seio do que aquelas com temperamento e visão mais positivos. Apenas recentemente foram desenvolvidos métodos mais específicos para compreender a relação entre o câncer e as emoções, apesar dessa relação ter sido reconhecida há pelo menos mil e oitocentos anos.

Há teorias convincentes a respeito da habilidade do indivíduo para exercer algum controle sobre seu Sistema Nervoso Autônomo, contribuindo com eficácia na luta contra as doenças graves. Pacientes aprendem, em laboratórios de biofeedback, a reduzir a pressão arterial, atenuar enxaquecas e aumentar o fluxo sanguíneo nas mãos.

“É necessário que a pessoa primeiro aprenda a cantar plenamente sua própria canção e, então, como parte de suas necessidades humanas, encontre uma maneira de expressar sua relação com os outros ou com a raça humana. Só desta maneira atuamos e vivemos como um todo coerente e assim fortalecemos e mobilizamos nossa própria capacidade de autocura.”
Lawrence LeShan

Naturalmente, nem todas as doenças humanas podem ser tratadas através de técnicas de autocontrole, mas a intervenção médica funciona muito melhor quando os recursos do paciente são totalmente mobilizados. O corpo humano possui um sistema de cura altamente desenvolvido que, na grande maioria das vezes, é apropriado para enfrentar os desafios que encontra. Mesmo em circunstâncias graves, sabe-se que a força desse sistema pode diminuir ou aumentar, dependendo dos fatores emocionais que a envolvem.

O trabalho do psicólogo junto ao médico oncologista é muito importante, pois os medicamentos são muito mais eficazes quando o pânico do paciente é vencido pela sua vontade de viver, pela esperança e pela confiança no médico e em si mesmo. Emoções negativas provocam efeitos químicos prejudiciais ao corpo, assim como as emoções positivas provocam alterações químicas benéficas.

“Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.”
São João, cap.IX, v.5

“Porque em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para acolá – e há de passar; e nada vos será impossível.”
São Mateus, cap.XVIII, v.20

O indivíduo necessita de cuidados especiais, mas não de exageros. Sua dignidade tem que ser respeitada. A pessoa tende a negar a verdade que os diagnósticos apontam. Para melhor resolver a questão, deve-se debater, estudar discutir, trocar idéias sobre o diagnóstico para se sentir mais forte para vencer essa etapa.

A sociedade rotula o câncer como um tabu vinculado aos efeitos colaterais que o tratamento provoca e deixa o corpo debilitado e desvitalizado. O paciente não pode se deixar envolver por esses tabus. É importante que desvie seu pensamento para a natureza e demais coisas agradáveis.

O cérebro, além da sede da consciência, é a glândula mais produtiva do corpo humano. Ele produz uma substância bloqueadora do câncer, a interferona. Também produz encefalina e endorfina, que eliminam a dor e ajudam o doente a dar os primeiros passos para sua recuperação, e a gamaglobulina, que é uma substância vital do Sistema Imunológico.

Em situações de depressão, pânico ou ansiedade, os recursos de cura do cérebro humano não se envolvem totalmente. Entretanto, quando há muita esperança e vontade de viver, intensifica-se a capacidade do cérebro para provocar alterações químicas benéficas.

É importante a relação corpo, mente e espírito. A resposta do terapeuta ante o comportamento do paciente, aquilo que não é respondido e até mesmo a aparência do consultório proporcionam sugestões fortes e sutis das suposições do processo e suas metas. Pelo comportamento verbal e não-verbal, os terapeutas comunicam claramente aos pacientes o que a terapia tenta alcançar e como o processo se desenvolve para conseguir os resultados.

Uma nova definição de psicoterapia está sendo feita, onde a procura pela patologia e suas raízes é secundária. O fundamental é a busca daquilo que seria uma vida cheia de prazer e entusiasmo para essa pessoa. A patologia deve ser considerada no contexto, como um processo que bloqueia a percepção para que o indivíduo tenha contato com o entusiasmo e a alegria de sua vida.

O hospital é uma organização dirigida por administradores, que vende testes, remédios e procedimentos relacionados à doença. É formado por profissionais que ingressaram na área geralmente pelo melhor dos motivos, mas receberam educação médica em um sistema orientado a considerar o paciente não como uma pessoa, mas como uma máquina avariada.

A instituição é voltada à obtenção de lucros e prestígio e os pacientes são tratados como partes de um material instrumental para a realização do trabalho. A atitude de “o cuidado com o paciente vem em primeiro lugar” vai perdendo vigor frente a atitude empresarial de ter que vender o produto para se manter a qualquer custo, ignorando-se que esse custo quem paga é o paciente, a respeito de seu bem estar.

O paciente relaciona seu desespero com o câncer apenas superficialmente. É como se sua doença fatal fosse apenas mais um exemplo da ausência de esperança em sua vida. O problema de sua existência insuportável estava sendo resolvido pelo câncer, como para se livrar de si mesmo. Essa solução simboliza o que sempre havia temido e sentia ser inevitável. O problema subjacente ao desespero é a crença de que o eu não pode ser aceito pelo que é. Ele passa a ser desvinculado da emoção.

Com o diagnóstico da doença, o paciente tende a não procurar novas experiências ou modificar seus padrões habituais de comportamento. O câncer não era considerado algo novo, mas o mais recente exemplo do desespero essencial que por tanto tempo fizera parte de sua vida.

Cada terapeuta deve ter seus próprios caminhos para avaliar o momento em que um paciente passa da fase da doença para a fase da morte. Geralmente, surge uma fadiga profunda, o paciente não tem mais energia para lutar pela vida. A exaustão é básica e total. O paciente deseja apenas descançar.

Às vezes, há dificuldade no relacionamento do médico oncologista com o paciente de câncer, pois o médico é treinado para curar doenças, e não necessariamente para lidar com emoções profundamente carregadas e problemas de comunicação que podem surgir em uma doença como o câncer. É aí que entra a importância fundamental do papel do psicólogo, que está mais capacitado para enfrentar a fatalidade da doença e melhor interagir com os sentimentos decorrentes.

Os problemas, geralmente, de uma maneira ou de outra, relacionam-se com a comunicação. O psicólogo pode facilitá-la, ajudando os membros da família e o paciente a expressar as tensões e emoções uns para os outros, tornando o ambiente mais saudável e o paciente mais forte psicologicamente para lutar pela cura e pela vida.

Ao reprimir os sentimentos, o sistema imunológico fica debilitado, a qualidade de vida sacrificada e pode levar à depressão profunda. Às vezes, a alegria e o bom humor é uma forma mascarada de negar a verdadeira tristeza que está por dentro. É preciso uma atenção diária aos sentimentos. A negação pode agravar a doença.

O verdadeiro amor supera todos os obstáculos.

O verdadeiro amor abrange todos os opostos.

O verdadeiro amor não tem medo da morte, pois o amor está no viver, ali presente.

O símbolo do amor-perfeito é o coração, que é o único órgão que não pode ser atacado pelo câncer.

“Abraçar a dor é fazer consciência. Aceitar cada obstáculo como uma nova oportunidade em busca do Eu Interior. Lutar com dignidade, perseverança e confiança na sua capacidade. Retirar do sofrimento uma lição de vida e sentir o renascer a cada dia que passa, fazendo uma nova consciência.”
Magda Spalding Perez

Pode-se dizer, então, que a inteligência consciente participa das secreções produzidas pelo cérebro, as quais estão diretamente envolvidas na manutenção da saúde e no controle da vida.

Quando o indivíduo recebe o diagnóstico de que está com câncer, sente a necessidade de realizar várias mudanças em sua vida e cuidar melhor de sua saúde, reorganizando os hábitos alimentares, praticando exercícios físicos, aprendendo a expressar melhor suas emoções...

Assim, o paciente e sua família podem receber muitos benefícios durante a doença e, se mantê-los quando a doença não mais existir, podem até afirmar, como vários já o fizeram: “Se eu tivesse que ter câncer de novo, com certeza o teria.”

Referência Bibliográfica:
- Le SHAN, L. – O câncer como ponto de mutação. São Paulo. Summus editorial. 1992
- SIMONTON, S.M. – A família e a cura. São Paulo. Summus editorial. 1990
- DAHIKE, R.; DETHLEFSEN, T. – O câncer. In: A doença como caminho. São Paulo. Editora Cultrix. 1983. P.233-40

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