(Romanos 15: 4) Ninguém ousaria contestar a veracidade descrita acima, pois os fatos históricos têm gerado interesse genuíno de estudiosos de todas as áreas: científica, geológica, cultural e política, norteando um aprimoramento em nível de conceitos, abrindo novos horizontes. No período de 12 a 17 de Julho de 2009, Fortaleza, a capital do Ceará, sediou o XXV Simpósio Nacional de História. A UFC – Universidade Federal do Ceará abriu as suas dependências para a promoção de um debate do mais alto nível, com o tema: “História e Ética”. O número de participantes esperados de todos os estados do Brasil impressionou - cerca de 8.000, entre professores, pesquisadores e estudantes.
A história do Brasil, em algum aspecto, iniciada pelo Ceará, certamente, nos conduz a uma séria reflexão sobre os problemas contemporâneos. Memoravelmente, podemos destacar alguns acontecimentos que ficaram registrados, para pensarmos o impensável e transpor o impossível. Um dos eventos marcantes considera-se a constituição da Lei Maria da Penha. Essa destemida cearense ousou em denunciar o seu marido que tentou por duas vezes eliminá-la. Na primeira com arma de fogo, deixando-a paraplégica, na segunda por eletrocução e afogamento. O seu caso chegou à Comissão Interamericana dos Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), que acatou, pela primeira vez, a denúncia de um crime de violência doméstica. A lei nº 11.340, batizada com o nome da vítima, Maria da Penha, contemplou as mulheres não apenas do Ceará, mas de todo o Brasil. Lembram-se, da primeira prefeita de capital eleita por voto popular? Foi um fato inédito para a história do nosso Ceará e para o Brasil. O coronelismo ditatorial que mandava e desmandava no Ceará, não aceitou pacificamente, que Fortaleza fosse administrada por uma mulher, muito menos por pertencer a um partido de esquerda que estava dando os primeiros passos. Além de tantas dívidas e problemas monumentais, a prefeita Maria Luiza Fontenele, sofreu boicote econômico durante toda a sua gestão, e mesmo assim, priorizou-se o atendimento aos excluídos sociais. Já ouviram falar da Padaria Espiritual? Outro movimento inovador, formado por jovens intelectuais e cidadãos comuns. Estes produziram pão espiritual “cultural”, abundantemente, para aqueles carentes de informação, porque a elite, dominante, intelectual, se apropriou de todo o pão acadêmico. Resultado: A Padaria Espiritual deixou um riquíssimo legado, e influenciou a criação da Academia Cearense de Letras, uma das pioneiras do Brasil. O Ceará também foi uma das primeiras províncias a abolir o escravismo, trazendo repercussão positiva para as demais províncias do país, e conseqüentemente, a constituição da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, dando por encerrado a escravidão no Brasil.
Em vista de todo esse histórico de busca de liberdades e igualdades sociais, mais uma vez os cearenses detectam uma nova forma de escravidão, ainda não plenamente exposta à luz, que é um tipo de excomunhão praticada por um grupo religioso específico, a saber, as Testemunhas de Jeová. Se não fosse pelas suas cruéis consequências psicológicas, e gritos de socorro vindo de toda a parte do Brasil, esse não seria hoje um fato relevante. Vale lembrar que o Ceará, pelas páginas virtuais e via impressão, denunciou, tal prática danosa, em um artigo recente publicado com o tema: “Quem Tem Autoridade Para Excomungar?”. Além disso, o grupo Crítico Radical se manifestou solidariamente, pelo fim de tal prática "inquisitória" praticada às portas fechadas, onde lideres montam verdadeiros tribunais de julgamento, determinando o fim do convívio social do "réu", julgado indigno de ter associação com ex-membros ou anteriores amigos da religião, incluso, pasmem, parentes diretos. Em vista do caráter medieval, e de exclusão social, silenciosamente caminhando na contra-mão de uma democracia plena, tão sonhada por nós brasileiros, é de se esperar, que as entidades representativas de direitos humanos, impetrem juridicamente ações contra a desassociação para que seja restabelecida as relações familiares que forma grande parte da sociedade, onde esse grupo atua. Visto isso, observem, por favor, o que diz o artigo XVIII sobre diversidade religiosa e direitos humanos: “Toda pessoa tem o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença...” Não precisaria concluir este parágrafo para detectarmos que os líderes da organização das Testemunhas de Jeová violam flagrantemente o direito constitucional, deixando a pessoa garroteada, sem poder se dissociar da crença, ou optar por outra denominação, pois, será tratada persecutoriamente, igualmente a uma pessoa que foi desassociada. Por coincidência, um professor universitário se expressou: "Quer dizer que eu posso me associar a uma organização e depois não posso mais me desassociar? Brincadeira! É sério..." Concluiu: "Eu prefiro não acreditar neste despropósito!”
Entre os temas discutidos no decorrer do “Simpósio de “História e Ética”, propomos aos participantes que fosse denunciada a desassociação, pois, em pleno século XXI é inaceitável que uma só organização religiosa continue atrocidando, sem precedente igual, mentalmente, mulheres, homens, jovens e pessoas idosas. Além disso, essa subparcela da sociedade, que não tem a quem recorrer, o qual o único "pecado" na maioria das vezes foi um dia discordar de ensinos e a sua impiedosa desassociação. Portanto, assim como Deus usou Ciro, rei persa, para libertar o seu povo do cativeiro babilônico, poderá usar as autoridades competentes para libertar todas as vítimas da opressão e do tratamento que é dispensado aos desassociados, amigos e familiares. Temos hoje, governantes dispostos a ouvir vozes silenciosas dos que clamam por socorro às escondidas?
Sebastião Ramos, funcionário público federal na UFC - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.