Réquiem para Lélia Gonzalez e Malcolm X, heroína e herói negros da luta anti-racista!

Foto: Januário Garcia

http://www.jornalorebate.com.br/178/lelia.jpgLélia Gonzalez...

Ao intitular e redigir este texto me referencio em cinco militantes anti-racistas e anti-racialistas: J. Roberto F. Militão da Comissão de Assuntos Antidiscriminatórios da OAB-SP e da Esquerda Marxista Luiz Bicalho, Serge Goulart, J. C. Miranda e o vereador Roque Ferreira. Os dois últimos são formuladores e fundadores do Movimento Negro Socialista (MNS), sendo Miranda prefaciador do livro ‘Racismo e Luta de Classes’ redigido por Goulart, cuja obra a Editora Marxista em breve relançará. Ao longo, o porque da referência nesses valorosos companheiros.
Considero incorretas alusões de militantes racialistas dos movimentos negros à heroína e ao herói negros da luta anti-racista, a brasileira Lélia Gonzalez (1935-1994) e o estadunidense Malcolm X (1925-1965) como se ambos também tivessem sido. Com Bicalho aprendi, não há como saber a posição política hoje de nenhum mártir, por mais coerente que o mesmo tenha sido. Haja vista Lélia Gonzalez e Malcolm X embora tenham sido históricos combatentes anti-racistas, por terem falecido prematuramente, não conheceram a luta anti-racialista que surgiu após a morte de ambos.

Essa luta é do século XXI, foi encetada em oposição à ideologia, crença e ou prática fundamentalistas da existência de ‘raças’ entre os seres da espécie humana surgida em 2001 na cidade de Durban, África do Sul, durante a III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias correlatas. Suntuoso, o evento foi apoiado pelo Banco Mundial, FMI e Fundação Ford, patrocinado pela ONU para barrar o que move o mundo, a luta de classes, a luta dos oprimidos contra os opressores. Para tanto o racialismo tornou-se um tumbeiro (antigo navio negreiro) onde embarcou a quase totalidade dos movimentos negros.

Neles, dentre as justas menções a heroínas e heróis negros não é citado de propósito o maior herói e mártir internacional do século XX, o sindicalista e líder socialista sul-africano Stephen-Steve Bantu Biko (1946-1977). Tudo porque Steve Biko é autor da célebre frase ‘Racismo e Capitalismo são os dois lados de uma mesma moeda’. Mais que fonte do livro ‘Racismo e Luta de Classes’ prefaciado por Miranda e redigido pelo coordenador nacional do movimento das fábricas ocupadas, Serge Goulart, tal frase tornou-se slogan do MNS desde a fundação em 13/05/2006.

Sindicalista como Biko, o líder ferroviário Roque Ferreira nele tem se inspirado ao combinar as reivindicações da categoria ferroviária com as do povo trabalhador, assim como as reivindicações específicas dos negros e negras com a luta anti-racista sejam enquanto dirigente do Sindicato dos Ferroviários de Bauru e Mato Grosso do Sul, da Federação Independente dos Trabalhadores sobre Trilhos e do MNS. Tanto que ele se elegeu vereador bauruense, conquistando expressivos 3 % dos votos proporcionais na última eleição municipal, em outubro de 2008. Sua coerência e combatividade tem sido um exemplo para trabalhadores, jovens, negros e negras.

Assim como o vereador, o advogado Militão é histórico militante negro e anti-racista desde a década de 70, sendo um destacado membro da Comissão de Assuntos Antidiscriminatórios da OAB-SP. Ambos são brilhantes formuladores da luta anti-racialista. Aliás, coube a Militão durante o ato público nacional contra o Racismo e as Leis ‘Raciais’ realizado pelo MNS, dia 16 de maio passado, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo fazer esta honra ao mérito de Malcolm X “Seu correto posicionamento contrário às políticas de ações afirmativas, já na década de 60 nos EUA, custou-lhe a vida, pois, foi assassinado por militantes negros então defensores daquilo que nós hoje denominamos como racialismo”. 

Um pouco da vida do herói Malcolm X e da heroína Lélia Gonzalez!

No dia 19/05/1925 na cidade Omaha, estado de Nebraska, sul dos EUA, nasceu Malcolm Little o 8º filho do casal Little, o negro Earl e a branca Louise. A infância e adolescência dos irmãos Little, além da pobreza agravada pela violência dos guetos, foram marcadas ainda mais pela tragédia do pai Earl em 1931, violentamente assassinado após um espancamento. Seu corpo foi jogado em uma linha férrea, destroçado pelo trem que o atingiu. Foi mais uma entre milhares de tragédias sofridas pelos negros, devido ao ódio reinante na racista sociedade dos EUA à época.

A mãe Louise ficou em estado de choque, sendo internada em um hospital psiquiátrico. Seus dois filhos maiores de idade foram lançados à própria sorte. Os outros seis adotados por famílias diferentes. Malcolm foi para Boston onde concluiu a 8ª série, como melhor aluno, pois, era estudioso e sonhava tornar-se advogado. Como sapateiro concluiu o ginasial. As agruras do capitalismo e do racismo o levaram a roubar e traficar, sendo preso e condenado 10 anos de prisão, em 1946.

Na cadeia converteu-se ao islamismo, mudou o nome para Al Hajj Malik Al-Habazz e filiou-se à Organização da Nação do Islã (NOI). Nela, a leitura e erudição somadas ao carisma e oratória, fizeram dele a personalidade mais conhecida dos EUA, no final dos anos 50 e início dos 60 quando era mais mídia que Luther King e John Kennedy. Ele que saíra da prisão em 1952 como Al-Habazz até o ano de 1963 massificou de 500 para 30 mil membros a NOI da qual, porém começou a se afastar, rompendo em 1964 quando peregrinou até a Meca, templo sagrado dos muçulmanos na Ásia.

Na volta aos EUA fundou a Organização da Unidade Afro-americana, entidade não mais religiosa e sectária como a NOI dos muçulmanos pretos (blacks muslins) para unir os negros uma vez que compreendeu que o paradigma de sua luta era maior que as questões da cor de pele e credo religioso. Apesar de progressista, Al-Habazz não tinha o perfil ideológico pacifista de Luther King nem o esquerdismo dos Panteras Negras (blacks panthers), mas assustou o stabilishment, acarretando em seu brutal assassinato (16 tiros calibres 38 e 45) diante de sua grávida mulher Betty e quatro filhas dentro da sede de sua organização, no dia 21 de fevereiro de 1965.         

Já a professora universitária Lélia Gonzalez, embora ainda jovem iniciou militância feminista e anti-racista como intelectual-negra e viúva de um marido branco, que sempre fez questão de homenagear pelo sobrenome. Doutora em Antropologia Social e graduada em História, Filosofia e Comunicação Social, ela militou no Centro de Estudos Afro-asiático da universidade Cândido Mendes no bairro Ipanema no RJ (1974), Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (1975), Movimento Negro Unificado (1978), tendo a partir da década de 80 ajudado a fundar no RJ o Coletivo de Mulheres Negras N´Zinga e a escola de samba Quilombo, além do Grupo Olodum em Salvador (BA). Profícua pesquisadora sobre gênero e conceito étnico-racial, ela fez bem sucedida carreira acadêmico-profissional, tendo sido diretora do departamento de Sociologia e Política da PUC-Rio. Com Carlos Hasenbalg é co-autora do livro “Festa Populares no Brasil: Lugar de negro”. Por falecer prematuramente em 10 de julho de 1994, Lélia Gonzalez não concluiu uma pesquisa sobre os negros na diáspora, na qual cunhava o conceito de ‘amerifricanidade’.

*jornalista – é membro da coordenação nacional do MNS.                   
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