No esquizofrenico há fragmentação da fala e do corpo, pela falta de interesse pelo mundo, assividade etc(...), o q permite ações variadas sobre eles: ações de reabilitação psicossocial, pesquisas de medicamentos de última geração, intervenções cognitivo-comportamentais, atendimentos tradicionais em psicanálise etc. Porém, os efeitos de quase todas essas ações muitas vezes não atingem o sujeito ou acabam por reforçar a posição objetal do paciente, permanecendo o isolamento social, a passividade diante do outro, a fragmentação, as esquisitices ou bizarrices, culminando nos casos nomeados de refratários ao tratamento, à medicação, ao convívio social. As intervenções não conseguem atingir o paciente em sua subjetividade, capturá-los para construir soluções que consigam implicá-los. Pelo contrário, ao permanecerem sem interesse pelo mundo externo, esses pacientes acabam sendo rotulados de crônicos ou residuais, rótulos estes que são um atestado para aqueles casos que não têm mais solução.
A linguagem na esquizofrenia demonstra com mais evidência o que é estar fora do laço social, tornando-se uma espécie de ‘paradigma’ do fora-do-discurso. Portanto, o funcionamento da linguagem na esquizofrenia demonstra especificidades que apontam para outra forma de relação com a linguagem.
Eugen Bleuler, que, em 1911 introduziu a noção de complexo afetivo como fator regulador do modo de funcionamento do pensamento e das ações do sujeito, que, até então, estava atrelado à idéia clássica da associação sobre o funcionamento do pensamento. Para Bleuler, a esquizofrenia referia-se sobretudo à dissociação das funções psíquicas, cujos sintomas fundamentais compreendiam a perturbação das associações do pensamento e da afetividade. Apesar de ser contrário à idéia de Kraepelin sobre a evolução desses casos para a demenciação e incurabilidade, Bleuler não descartou a possibilidade de uma causalidade orgânica
"idéia de dissociação ligada à perda da unidade das funções psíquicas prevaleceu como uma das principais características dessa entidade clínica(...) também a prevalência da idéia de dissociação, relacionada a uma falha na função de síntese do eu"
“para o esquizofrênico todo o simbólico é real”
(LACAN, 1954/1998, p.394), Seminário, Livro 1 (1953-1954
• a palavra como coisa (FREUD, 1915/1976
• a linguagem de órgão (FREUD, 1915/1976)
• o simbólico como real (LACAN, 1954/1998 - do momento estruturalista de 1954, 1955 e ainda um pouco do contexto pós-estruturalista, de 1972-1973
• a exterioridade em relação ao laço social como discurso (LACAN, 1972/2003e 1958,
Em Freud, o funcionamento da linguagem ocorre via modo de satisfação pulsional auto-erótico, observado na linguagem de órgão(somatização ?) ou nos fenômenos hipocondríacos. Destaca-se, também, a exterioridade dos mecanismos do inconscientea céu aberto, tal como os fenômenos esquizofrênicos que surgem sob a forma da palavra como coisa(perda de abstração ?): manifestação de expressões neológicas, a salada ou copulação das palavras, a concretude da fala que traz um enunciado sem a articulação dos representantes psíquicos com o funcionamento inconsciente, pois não houve o recalque. Como conseqüência disso, há uma prevalência do funcionamento da representação de palavra que não se vincula à representação de coisa como recalcada, não operando o mecanismo da substituição. E, nesse caso, a palavra é tomada como coisa.(superinvestida ?, leva ao pé da letra) Assim, muitas vezes palavras machucam como se fossem a coisa em si(?), não distanciamento abstrato
A linguagem fica mais à deriva, mais vulnerável à decomposição ou ao congelamento, pois aquilo que poderia sustentar ou ancorar uma significação e um sentido, não funciona.
Nos textos metapsicológicos freudianos que é a fixação do representante-representação (representante da pulsão que constitui o núcleo do Inconsciente, e o recalque) que cria um ponto de articulação e dá suporte à representação, conferindo-lhe um caráter de realidade, cuja relação entre representação de palavra e representação de coisa serve para designar ou denotar.
no esquizofrenico ► falta esse suporte (?)
Lacan → momento estruturalista: alteração na função do imaginário, no sentido de não ser consistente, como aquilo que não foi regulado pelo simbólico.
Na esquizofrenia não há a sustentação do eu, pois não houve a fixação de uma imagem unificadora, permanecendo aquém da alienação imaginária do eu. Nesse caso, a imagem não fisga o corpo, não cumprindo sua função de estruturação do corpo ao fixar um contorno totalizante. Trata-se da fragmentação do imaginário e, por conseguinte, partes disjuntas do corpo que funcionam sozinhas, não coordenadas pelo simbólico.
Contexto teórico de 1954, em que aparece a expressão o simbólico é real (LACAN, 1954/1998, p.394), Lacan dá ênfase ao registro do imaginário, associando a ele a libido, e, por conseguinte, as perturbações psíquicas, no sentido das flutuações libidinais (LACAN, 1954/1986, p.210). → remete a uma falência do imaginário que não foi regulado pelo simbólico prevalecendo o funcionamento da linguagem que não foi envolvida pelo imaginário, pois não há o investimento da libido imaginária (LACAN, 1954/1986, p.166)
libido imaginária → permitiria certa consistência da linguagem na vertente imaginária
inconsistência imaginária → sugere uma relação direta da linguagem com o real que não foi separado pelo simbólico , nao podendo representálo simbolicamente
Nesse nível que se apresenta a dimensão da linguagem não articulada ao apelo, manifestando-se a fala sem a intenção, sem entonação, sendo isso o que faz se prender ou querer algo, pois não há o investimento da libido imaginária. Se não há captura imaginária, podemos dizer que não houve a alienação imaginária, a qual é uma característica dos paranóicos que ficam detidos apenas nessa alienação.
Essa dimensão da linguagem, que não foi investida libidinalmente, é verificada em muitas falas de esquizofrênicos, tal como a desagregação ou descarrilamento do pensamento, as pára-respostas, as expressões sem nexo ou dissociadas, a falta de interesse pelo mundo, as expressões neológicas, as quais não remetem a nada, a nenhuma significação (mesmo que delirante). Podemos dizer que essa dimensão da linguagem é o que levou Bleuler a tratá-la em termos de dissociação do pensamento, cuja consciência não conseguiu cumprir sua função de ligação e orientação das associações dirigidas a uma meta principal.
Federn, considerou como uma desadaptação do Eu em sua dimensão de unidade de investimento, incapaz de comandar os processos psíquicos
Freud e Lacan consideram a importância da cisão do psiquismo como constituinte para qualquer sujeito, não sendo específico da esquizofrenia. Bem como quando eles fazem essa discussão vinculando-a de uma forma de funcionamento diferente do inconsciente, dando ênfase ao inconsciente na articulação da linguagem
O discurso vem cumprir uma função de articulação e arranjo entre a linguagem e o que resta fora dela arranjo, possibilitada pelo discurso, permite lidar melhor com o corpo, criando lugares e funções simbólicas estáveis para os órgãos que compõem uma estrutura de funcionamento unificado e não questionável constantemente. Nessa defesa do real pelo simbólico (MILLER, 1996), a relação do ser falante com a linguagem é de habitá-la e de fazer dela seu instrumento, conforme indica Lacan no artigo O aturdito.
Devido ao fato de o esquizofrênico ser remetido ao fora do discurso, manifesto na conexão imediata entre o significante e o gozo, bem como sofrer dos efeitos da linguagem que o habita, invadindo-o, cuja posição é de instrumento, ele precisa inventar funções para o seu corpo despedaçado → decomposição da linguagem “um prazer macabro nessa boa oportunidade de injetar de alguma forma as palavras que saíam da sua boca nas orelhas de seu filho, seu único filho — ou como ela lhe tinha dito varias vezes: sua única posse —, parecendo tão feliz por fazer vibrar o tímpano dessa única posse, e em conseqüência disso, os ossículos do ouvido médio da dita posse, seu filho, em uníssono quase exato com suas cordas vocais...”
(WOLFSON, 1970, sendo a voz da mãe uma extensão do tímpano dele )
Não houve uma separação de seu corpo da fala da mãe, impossibilitando a criação de lugares para a linguagem exterior ao corpo
--
Tania Montandon
_______________________________
site: Fragmentário de In§pirações - http://br.geocities.com/t.biti
rede: Jornal dos Blogs - http://blogsparceiros.ning.com
Nos textos metapsicológicos freudianos que é a fixação do representante-representação (representante da pulsão que constitui o núcleo do Inconsciente, e o recalque) que cria um ponto de articulação e dá suporte à representação, conferindo-lhe um caráter de realidade, cuja relação entre representação de palavra e representação de coisa serve para designar ou denotar.
no esquizofrenico ► falta esse suporte (?)
Lacan → momento estruturalista: alteração na função do imaginário, no sentido de não ser consistente, como aquilo que não foi regulado pelo simbólico.
Na esquizofrenia não há a sustentação do eu, pois não houve a fixação de uma imagem unificadora, permanecendo aquém da alienação imaginária do eu. Nesse caso, a imagem não fisga o corpo, não cumprindo sua função de estruturação do corpo ao fixar um contorno totalizante. Trata-se da fragmentação do imaginário e, por conseguinte, partes disjuntas do corpo que funcionam sozinhas, não coordenadas pelo simbólico.
Contexto teórico de 1954, em que aparece a expressão o simbólico é real (LACAN, 1954/1998, p.394), Lacan dá ênfase ao registro do imaginário, associando a ele a libido, e, por conseguinte, as perturbações psíquicas, no sentido das flutuações libidinais (LACAN, 1954/1986, p.210). → remete a uma falência do imaginário que não foi regulado pelo simbólico prevalecendo o funcionamento da linguagem que não foi envolvida pelo imaginário, pois não há o investimento da libido imaginária (LACAN, 1954/1986, p.166)
libido imaginária → permitiria certa consistência da linguagem na vertente imaginária
inconsistência imaginária → sugere uma relação direta da linguagem com o real que não foi separado pelo simbólico , nao podendo representálo simbolicamente
Nesse nível que se apresenta a dimensão da linguagem não articulada ao apelo, manifestando-se a fala sem a intenção, sem entonação, sendo isso o que faz se prender ou querer algo, pois não há o investimento da libido imaginária. Se não há captura imaginária, podemos dizer que não houve a alienação imaginária, a qual é uma característica dos paranóicos que ficam detidos apenas nessa alienação.
Essa dimensão da linguagem, que não foi investida libidinalmente, é verificada em muitas falas de esquizofrênicos, tal como a desagregação ou descarrilamento do pensamento, as pára-respostas, as expressões sem nexo ou dissociadas, a falta de interesse pelo mundo, as expressões neológicas, as quais não remetem a nada, a nenhuma significação (mesmo que delirante). Podemos dizer que essa dimensão da linguagem é o que levou Bleuler a tratá-la em termos de dissociação do pensamento, cuja consciência não conseguiu cumprir sua função de ligação e orientação das associações dirigidas a uma meta principal.
Federn, considerou como uma desadaptação do Eu em sua dimensão de unidade de investimento, incapaz de comandar os processos psíquicos
Freud e Lacan consideram a importância da cisão do psiquismo como constituinte para qualquer sujeito, não sendo específico da esquizofrenia. Bem como quando eles fazem essa discussão vinculando-a de uma forma de funcionamento diferente do inconsciente, dando ênfase ao inconsciente na articulação da linguagem
O discurso vem cumprir uma função de articulação e arranjo entre a linguagem e o que resta fora dela arranjo, possibilitada pelo discurso, permite lidar melhor com o corpo, criando lugares e funções simbólicas estáveis para os órgãos que compõem uma estrutura de funcionamento unificado e não questionável constantemente. Nessa defesa do real pelo simbólico (MILLER, 1996), a relação do ser falante com a linguagem é de habitá-la e de fazer dela seu instrumento, conforme indica Lacan no artigo O aturdito.
Devido ao fato de o esquizofrênico ser remetido ao fora do discurso, manifesto na conexão imediata entre o significante e o gozo, bem como sofrer dos efeitos da linguagem que o habita, invadindo-o, cuja posição é de instrumento, ele precisa inventar funções para o seu corpo despedaçado → decomposição da linguagem “um prazer macabro nessa boa oportunidade de injetar de alguma forma as palavras que saíam da sua boca nas orelhas de seu filho, seu único filho — ou como ela lhe tinha dito varias vezes: sua única posse —, parecendo tão feliz por fazer vibrar o tímpano dessa única posse, e em conseqüência disso, os ossículos do ouvido médio da dita posse, seu filho, em uníssono quase exato com suas cordas vocais...”
(WOLFSON, 1970, sendo a voz da mãe uma extensão do tímpano dele )
Não houve uma separação de seu corpo da fala da mãe, impossibilitando a criação de lugares para a linguagem exterior ao corpo
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Tania Montandon
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