Coitadas das traças... Afinal, as traças não se escondem, elas corroem, mas dão as caras, se mostram. Os políticos, ao contrário, corroem veladamente com astúcia, sabem retalhar o bolo da imoralidade e tirar o seu pedaço sorrateiramente, e só se vai perceber disso depois que a imprensa denuncia as suas falcatruas. Político está mais pra cupim do que pra traça. A traça incomoda, mas a gente consegue até combatê-la, e o cupim? Cupim é como político, é osso duro de roer, inferniza os alicerces da cultura brasileira, tornando-os frágeis e flexíveis a qualquer vento de "mensalão", de "comissão" de obras públicas, de "desvios" do erário etc.
Quanto mais a gente combate o cupim político, mais ele cresce, mais usa ardis e caminhos sinuosos, e sabe se esconder nos orifícios quase invisíveis da corrupção. Você pensa que ele é remediável quando é descoberto com a mão na botija, aí que mora o engano. Ele é altivo, imponente na arte de tirar vantagem. E encontra logo uma saída não-salomônica, sem critérios éticos e morais. Vejam a recente descoberta das cotas de viagens dos parlamentares, em que a farra com o dinheiro público fazia a festa de parentes e amigos em viagens nacionais e internacionais.
Pensou-se, com a descoberta, que alguns indecorosos seriam punidos, para moralizar a patuscada do Congresso. Ledo engano. Fizeram como cupim. Quando olharam o veneno, se acalmaram e deixaram a madeira secar. Mas não durou muito. Assim como o cupim, voltaram devagarzinho para as suas posições de ataque. E vejam que os chefes do cupinzal, os presidentes da Câmara e do Senado, não puniram ninguém, passaram uma borracha mágica em tudo, e continuaram como cupim comendo a madeira, quer dizer, o nosso dinheiro, sem cortar as viagens internacionais.
E vejam também, senhores, as estripulias mais recentes descobertas: os cupins, senadores José Sarney (PMDB-AP), o maior deles, João Pedro (PT-AM) e Gilberto Goellner (DEM-MT), foram flagrados na maior cara-de-pau recebendo auxílio-moradia, em Brasília, onde têm imóveis próprios ou apartamentos funcionais. Que vergonha! E ainda tiveram a pachorra de dizer que foi um erro administrativo do Senado, que lhes creditavam há muito tempo "dindin" sem os "inocentes" saberem. Merecemos! Quem manda a patuléia não saber votar em gente digna? Vamos fazer justiça e pedir desculpas às traças, pois elas ficaram ofendidas de serem comparadas aos políticos. Afinal, traça não é cupim.
Julio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
Balneário Camboriu-SC