- Eles estão chegando, eles estão chegando... - dizia, afobado, Jochanan - até ser amparado por Ashira que também cuidava da irmã de Lázaro, morto desde domingo.
Ao lado, a apoiar-se numa bengala de fina lavra, incrustrada com madrepérolas, Caleb seguia a caravana, enquanto ia conjeturando com Ephraim:
- Pobre mulher - dizia ele em tom diverso - deveria já estar cuidando de suas coisas... O irmão deixou muitas terras, vinhedos e olivais... Ficou sozinha com a outra, Maria. – e com ar interesseiro acrescenta - Vão precisar de alguém como eu para cuidar dos negócios....
O companheiro, notando o olhar de cobiça, a ambição voraz do comerciante judeu, adverte:
- Vá devagar Caleb... Lázaro detinha o respeito do Sinédrio... E eles devem proteger as irmãs...
- Claro... Eu sei... Mas não hesitarei em me oferecer para participar... Temo que elas, com a pouca experiência possam deitar fora a herança... - e arrematando com um olhar no futuro - Isso também vai modificar o meu conceito junto a Caifás... e aos sacerdotes...
Já no alto do caminho, Marta e a pequena comitiva enxergam Jesus e os seus que se aproximavam.
- Mestre... Se estivésseis aqui Lázaro não teria morrido... - disse Marta, de joelhos.
Levantando-a e confortando-a nos braços, Jesus falou:
- Marta... Acalme-se... Tenha fé simplesmente... Seu irmão ressuscitará!
- Sim, Senhor, eu sei... Ressuscitará nos últimos dias...
Olhando em derredor Jesus pergunta por Maria, a outra irmã. Informam-no que ela ficara em casa, junto a outros, pois conforme a tradição, aquele era o quarto dia e a pedra do túmulo fora totalmente rolada. Com os olhos fixos na irmã do amigo, Jesus falou, em meio a grande silêncio que se fizera:
- Marta... Eu sou a Ressurreição e a Vida. Aquele que crer em mim ainda que pereça, jamais morrerá!
Jesus se dirigiu com os apóstolos ao jardim onde se encontrava a sepultura, uma caverna no sopé da colina. Por sua vez, Marta, pressentindo que algo de extraordinário iria acontecer, foi buscar a irmã.
Caleb e Ephraim acompanhavam tudo, de perto.
- Você viu?!- diz Caleb, cutucando o outro com a bengala - E dizia-se amigo do infeliz morto!... Amigo!...- tartamudeia - enquanto o coitado morria doente, ele estava longe. Dizem que curando os estrangeiros, fazendo as mágicas, bem longe... - e dando de ombros, completa - Esse povo é muito fácil de ser enganado... Ingênuos, deixando-se levar por esse místico, um embusteiro... Também – conclui – o que esperar de quem vem da Galiléia...
Sem objetar, mas sem concordar, Ephraim fez meneio de resignação, e foram para onde Jesus estava com os discípulos e as duas irmãs.
De onde estavam, ouviram quando foi dada a ordem aos ajudantes para retirarem a pesada pedra que vedava o túmulo. Também entenderam - porque grande era o silêncio àquela hora - quando o Rabi, com as mãos aos céus, orou:
- Pai, eu vos dou graças, por atenderes ao meu pedido. Vós que estais em mim e comigo fazeis isto para a para Vossa Glória, para o fortalecimento da Fé...
Com autoridade sublime, olhando para dentro da sepultura, ordena:
- Lázaro... Levanta-te... Vem pra fora!
O Milagre, o maior de todos, se deu. O silêncio foi quebrado por gritos e choros de júbilo e aclamação. Em pouco tempo, Lázaro estava livre das ataduras que o prendiam. Alguns, apavorados fugiam de um lado a outro. Aterrados agradeciam a Deus. Abraçados, Lázaro, Jesus, Maria e Marta, em santa euforia, deitavam lágrimas de gratidão, marcadas em suas faces e panos. Aturdidos, os apóstolos davam Graças aos Céus.
Um pouco afastado, com expressão de assombro, Ephraim, com olhos fixos no amigo, comenta emocionado:
- Acabamos de ver um milagre impressionante, Caleb! Isso só pode ser coisa de Deus... Lázaro ressuscitou!
O negociante sagaz, vendo malogradas suas ponderações preconceituosas, sem disfarçar sua decepção, cofiava a barba rala, deixando à mostra os dentes amarelados. Pensativo, em sorriso irônico, completa:
- É... Tudo bem... Ressuscitou sim... Mas observe bem o detalhe: a túnica que cobria Lázaro está toda enlameada... Toda suja... E cheira mal... – e com a mão no nariz, saiu, vociferando - Como fede!
Diz a tradição que Caleb esperou em vão outro Messias até sua morte. Suas gerações posteriores permaneceram nessas convicções e o veneno de suas insinuações se espalhou por todos os cantos da Terra, estando entre nós, nos lábios de muitos, até hoje.
(Mensagem recebida por Arael Magnus no Celest - Centro Espírita Luz na Estrada – Sabará - MG, em 3 de Maio de 2009) Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.