Reportagens sobre violência deveriam já merecem há muito tempo um caderno próprio em cada jornal, assim como de futebol que a maioria chamam de esportes. De qualquer ponto deste país que se leia um tablóide, a manchete principal é sobre violência, de roubos, estupros, latrocínios e os milhares de assassinatos, que é a coisa mais absurda com que a sociedade aprendeu a conviver naturalmente.
Antes, em São Paulo existia a estatística de fim de semana. Variavam de 40 a 60 da noite de sexta-feira ao domingo. Sumiram com esta estatística. Ao contrário do discurso criminoso de autoridades, as notícias crescem porque os crimes aumentam e não o contrário. O jornal relata, mas o problema é a atrocidade ter existido.
Ninguém chega a um número exato porque não tem de onde tirar. Neste aspecto pecam os jornais por não citaram e nem cobraram sites oficiais que registrem o número correto de assassinatos, por município, em cada estado e o resultado no país, com registro, soma e total. Dificultam para tentar amenizar o que só os responsáveis não querem ver. Não existe uma família que não tenha um ente muito próximo assassinado, quando não toda a família.
No jornal Folha de São Paulo de 29 de maio de 2009, José Sarney escreveu que são 40 mil ao ano. Diogo Mainardi precisou 44663 na revista Veja de 31 de outubro de 2007. Há um arredondamento de quase 5 mil como se fosse um número insignificante. Só com a sobra desconsiderada pelo senador, num governo de oito anos, seriam 40.000 de troco. Desprezando mísera fração, com os dados subfaturados seriam 280 mil pessoas assassinadas durante os oito anos do governo Lula. Sem desprezo à fração, serão 320 mil seres humanos assassinados em 8 anos.
Para cada familiar vitimado, o assassinato é só algo que lhe trará infelicidade por toda a vida. Mas dentre estes, tiveram pessoas queimadas vivas em ônibus no Rio de Janeiro e uma família em Bragança Paulista; gente amassada como pasta, como as vítimas do deputado no Paraná, onde a mãe afirmou que recebeu apenas a cabeça do filho; massa de cérebro espalhada pelo asfalto como o garoto do Rio.
Fiquemos apenas com os assassinatos, pois aí o bem maior foi embora como a coisa mais natural do mundo, sem piedade, sem risco de punição. Pergunte quantos já foram julgados e o percentual de assassinatos esclarecidos. Sem dúvida a principal causa de tanta violência. Mas, no próximo ano, todos os responsáveis pela segurança estarão pedindo seu voto e dando lição de como combate-la. Inclusive, como já foi dito pelo ex-secretário de segurança de São Paulo, Marco Vinicius Petreluzzi, a violência é apenas uma abstração do sentimento mal formulado da sociedade; dirão que a violência será coisa do passado, enquanto 40 mil vidas, ou uma cidade de tamanho médio, estarão sendo dizimadas na bala, na faca, nas chamas, e derramando massa encefálica nos asfaltos brasileiros. Ninguém fica mais espantado com a violência, mas com o espanto do mais antigo dos dinossauros da política brasileira, exatamente um daqueles que já deveria ser responsável pela segurança quando existiu o primeiro assalto à mão armada. Mas eleito todo esse tempo...
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel Direito