Caía do céu, respingava, no rosto, na roupa e a pestinha, nem tão inha nem tão peste há de se lembrar, pulava a poça d'água, sentindo a amiga na pele, aquela que há muito estava trancada e não saía, rejubilou-se no deixar molhar-se, dos pés à cabeça. Leu para a chuva, sentada sob a marquise, dicas de português da Dad, crônica de Affonso Romano Sant'Anna. E ela ria da excentricidade. Ria da malandragem pensando nas gentes que lá não estavam, pois se estivessem logo sairia o coral:
- Maluca, sai daí, olha o resfriado!
A peste, nem tão peste, ria para a chuva, deixava-se acarinhar por ela. Saíra morta-viva e entendiada e voltou viva e cantarolando:
♫ Have you ever feel the rain? ♫
A família, a casa, espantadas, os cãezinhos lambiam-na, farreavam naquela azáfama que só eles sabem aproveitar como ninguém uma brecha de bagunça, mal-feito(como dizia a vovó), sujeira...
E foi a chuva a parceira da pestinha, nem tão inha nem tão peste, na noite de Carnaval de sábado à noite. Num Belo Horizonte famoso pelo sossego nessa época, quando todos viajam pra sítios ou farra total.
Um Carnaval diferente, um carinho quente e presente de Vivinho, sempre fazendo a quem se dedica se sentir amado e querido, um sonho tranquilo, um porvir imprevisível.
Acorda a peste, nem tão peste há de se lembrar, espirrando. Quem disse que senso comum não funciona?! Sim, com um baita resfriado, nem um pouco arrependida, exceto de não o ter feito antes. Pois ficou a lembrança na casa daquela que tanto queria ver gente, o mundo, não se sentir doente, ver outras paragens. Se possível, do outro lado do globo, na cultura mais ignota, língua e novidades infinitas, algo de uma índole ligeiramente aventureira e imprudente. Contudo o que lhe restou foi o papel, a imaginação, os adornos da lembrança, a caneta, o PC, e um coração dolorido. Isso pagaria uma passagem?