"Todo o bem que eu puder fazer,
toda a ternura que eu puder demonstrar a qualquer ser humano,
que eu faça agora, que não os adie ou esqueça,
pois não passarei duas vezes pelo mesmo caminho."
(James Greene)
toda a ternura que eu puder demonstrar a qualquer ser humano,
que eu faça agora, que não os adie ou esqueça,
pois não passarei duas vezes pelo mesmo caminho."
(James Greene)
O sorriso nos aproxima de Deus. Envolve as pessoas em um redemoinho de
alegria, paz, sabedoria e muito amor. As crianças sorriem a todo o
momento. Talvez , por isso, amemos as crianças. Pois elas são livres em
seus sorrisos.
Quando você ri, você muda. E com você, outras pessoas mudam. Já que quando sorrimos, as outras pessoas retribuem a “gentileza” de sorrir também. Sorrir é como brindar. Sorrir emociona e se permite emocionar.
Portanto, troque sua tristeza pela alegria do sorriso e celebre a vida, que é bela, como a primavera. Tenha certeza de que se você sorrir sua vida será como o inverno, que sempre traz consigo a primavera.
O sorriso do Sorriso
Acabei de chegar em casa após a aula. Não sei exatamente a razão, mas me lembrei do refrão de uma música interpretada por Cássia Eller, que é mais ou menos assim: “O que está acontecendo? O mundo está ao contrário e ninguém reparou!” A música me fez lembrar das aulas na escola, das crianças que sempre estão brincando e sorrindo e do “Sorriso”.
Logo pela manhã as crianças estavam animadas. Algumas da primeira série me abraçaram sem parar. Fui agarrado por umas oito, ao mesmo tempo. Uma doideira surreal que é impossível descrever, não pelo fato em si, mas pela alegria que ele provoca. Tão difícil como explicar o porquê da taxa de juros subir sem parar em um país massacrado e empobrecido como o Brasil. Todas elas: “tio, te adoro”, “tio, você é demais”, “tio, quando vamos ter aula?”. Essas demonstrações fazem valer a pena. Tornam a vida mais cheia, bela como um copo que transborda fartamente. Ali, eu estava assim, transbordando.
Esse doce episódio trouxe à tona em minha mente o Sorriso. Ele é o que algumas pessoas chamariam de excêntrico, maluco ou doido mesmo. Porém, eu prefiro as palavras: especial, sorridente e feliz. Não sei descrevê-lo fisicamente, nem tão pouco dizer qual a sua altura. Mais ele é moreno claro, tem um bigodinho à moda de Hitler, mas sua doçura é bastante diferente. Nunca o vi fora da janela, ele vive postado em uma janela do primeiro andar de um conjunto residencial popular, em Santos.
Sempre que olho na direção da janela, ele está lá, parado e sorrindo, claro. Queria passar por ele na rua, conversar quem sabe? Saber o que ele pensa acerca de nossa pseudo-sanidade. Às vezes, gostaria de ser como ele _ viver sorrindo, brindar a vida de outra maneira. Tornar as coisas mais fáceis, andar sem ter a necessidade de ir a algum lugar. Mas hoje não podemos, a todo momento somos podados pela sociedade, pela religião, pela sanidade que sempre batem à porta nos momentos em que nos preparamos para tentar ser felizes.
Ele é assim, vive brincando com as crianças, cumprimenta todos que atravessam seu caminho, ou melhor, sua janela, e faz isso com uma alegria que eu não vejo nem entre “amigos”. Basta uma olhada em sua direção e vemos todos seus dentes e suas rugas, tamanha e escancarada é sua alegria. Por isso, eu o chamo de sorriso, pois não sei seu nome e através da palavra “sorriso”, podemos ter uma breve noção da alegria contagiante que ele transmite.
“Os bons morrem cedo”_ certa vez ouvi essa frase verdadeira. De fato, eles morrem. Já foram tantos _ Cazuza, Ayrton Senna, Victor Hugo, Renato Russo, Gandhi, entre outros que aqui poderíamos citar. Essas pessoas deviam ter um bilhete eterno, não deveriam precisar renová-los. Elas estiveram à frente do seu tempo físico, tentaram proporcionar, cada uma dentro de sua área, a alegria a tantas outras. Mas com o Sorriso não é assim, ele não tenta, mas consegue proporcionar essa alegria que tento trazer comigo.
O Sorriso é uma pessoa que tem algum tipo de limitação mental. Pelo menos, é assim que caracterizamos pessoas como ele. Entretanto, ele nunca roubou, matou, assaltou os cofres públicos em benefício próprio ou estuprou alguém. E ele que é o louco. Pode?
Todos esses fatos que tento descrever diante das minhas sistêmicas limitações, fazem-me parar para pensar na vida que estamos levando. São chacinas de homens, crianças e mulheres; a corrupção infesta o aparelho público; Big Brother lança livro na Bienal do Rio... A banalidade é tamanha que as pessoas começam a arrumar formas de se anestesiar, uma maneira de fugir desse momento terrível que atravessamos. Todos tentam fugir de suas prisões. Vivemos aprisionados, uns pelas mulheres e homens que sufocam relacionamentos, outros pela família que pensa possuí-los. São tantas prisões. Como bem disse Khalil Gibran: “Somos todos prisioneiros, mas alguns de nós estão em celas com janelas, e outros sem.”
E quando eu tento sair da minha prisão sem janela; quando tento escapar dessa loucura denominada sanidade; procuro a janela, ou melhor, tento sorrir com o sorriso do Sorriso. Não sei bem por que as coisas são assim, também não sei por que minha mente costuma me perturbar com esses questionamentos sem respostas. Tão pouco sei onde iremos parar se continuarmos classificando pessoas como animais, sem procurar entender suas situações mais profundamente.
A única coisa que posso afirmar hoje, é que se eu pudesse ser o médico do livro “O Alienista” de Machado de Assis, eu daria a liberdade para o Sorriso. Iria transformá-lo como nos contos de fada, apenas com uma varinha de condão. Eu o traria de volta à sanidade, eu o deixaria “normal”, libertando-o, e, com certeza, essa seria a maior das prisões.