Lamentavelmente, temos uma formação cultural distorcida, que precisa ser urgentemente modificada. E os senhores políticos que fazem as leis deste País, que deveriam dar o exemplo, fraquejam. Confundem o público com o privado, acham que subtrair ou cometer um pequeno deslize não é crime, e não querem ser observados e fiscalizados.Ora, não precisa existir lei ou qualquer normativo para dizer que o dinheiro público tem que ser respeitado. As verbas de passagens aéreas para parlamentares são dinheiro público. Não são para serem empregadas em seus deleites. Não tem sentido os parlamentares destinarem essas verbas para fins que não sejam oficiais, beneficiando parentes, amigos e outros. Assim, soa escabroso dizer que era um velho costume e que as regras não eram claras.Por outro lado, a solução não-salomânica do presidente da Câmara dos Deputados, deputado Michel Temer (PMDB-SP), de passar uma borracha no que ocorreu sem chamar à responsabilidade ninguém, inclusive ele, de resgatar o erário e sofrer as punições correspondentes no Conselho de Ética, não demonstra seriedade.É preciso que os senhores políticos botem em prática o que dispõe o Art. 37 da Constituição, que dispõe que a administração pública obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade. E concluo com a publicação de um texto, escrito por um estudante de Cachoeira do Sul (RS), publicado na coluna Palavra do Leitor, do jornal Zero Hora, de 22.04.2009, para sintetizar o sentimento de todos os cidadãos com a farra das passagens: "Os políticos deveriam ter vergonha de pedir voto na época das eleições. Até quando vamos viver rodeados de corruptos que fazem o que querem de seus mandatos sem que nada lhes aconteça. A farra das passagens aéreas é mais uma dessas safadezas que temos que engolir".
Julio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado
Balneário Camboriu-SC