Mas a questão principal seria a diferença de tratamento entre fumante e beberrão. E ambos trazem problemas, mas os da bebida parecem ser mais amplos e com menores chances de defesa às vítimas. No entanto, a bebida recebe tratamento de muito glamour. Sempre vem o estímulo gigante e depois uma frase tímida, quase inaudível, a recomendar que encha a cara, mas não dirija. Como se o mal estivesse só em dirigir.
Quem fuma, prejudica com o cheiro da fumaça, quem bebe, com o da bebida. Quem fuma pode prejudicar o outro com o ardor nos olhos; quem bebe, com as cusparadas indesejadas. O fumante suja a cidade com suas pontas de cigarro, facilmente evitadas se usassem cinzeiro portáteis ou jogassem no lugar devido; quem bebe, fala alta, vomita em qualquer lugar. Uma reação orgânica sem controle. O fumante fica consciente, já o embriagado perde quase sempre a consciência.
Somente fumar, mataria individualmente, caso fosse evitado o repasse aos fumantes passivos. Ninguém pode evitar o suicídio desejado de ninguém. Mas, quem não quer receber a fumaça afasta-se; ao menos tem essa chance. Já do bêbado é difícil de se defender. Ele vem pra cima de qualquer um, ofende, provoca, agride. Em casa, geralmente aterroriza. E ambos matam milhões ao ano. O cigarro, pelas doenças que provoca. Os bêbados. pelos acidentes que causam. São centenas de casos de assassinatos coletivos em função de acidentes provocados pela bebedeira. Todos docilmente tratados como crime culposo, sem nenhum assassino na cadeia. Ninguém pode se defender de uma carreta dirigida por um bêbado. Ele é muito mais pernicioso à sociedade. Mais pela violência de que se utiliza, muito em função da bebida. É só levantar as estatísticas de assassinatos que envolvem embriaguez.
Bebida causa um mal muito mais amplo, imediato, e com nenhuma chance de defesa. E não sofre crítica veemente nem ações contrárias por parte das autoridades. Ao contrário, sempre está em qualquer horário nas novelas, nos filmes, nos comerciais. Enquanto só cresce o cerco ao cigarro.
Quanto à onda de proibir, agora são as cantinas das escolas de São Paulo que não podem vender salgadinhos, além de outras guloseimas. Alimentar-se corretamente tem que vir da educação de cada um, não pela imposição estatal. Às autoridades caberia sempre a orientação informativa, com vista a educar. Nada mais. E é preciso dar tratamento à bebida semelhante ao dado ao cigarro. Tal como as imagens fortes nos maços, as de carros aos farelos e de pessoas empastadas e decapitadas poderiam estar nos rótulos das garrafas.
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito