As infelizes palavras do Arcebispo de Olinda e Recife (PE), que disse
ser o aborto pior que o estupro, me fizeram lembrar de Paulo Maluf
quando, governador de São Paulo, proferiu a célebre frase “estupra mas
não mata”. Falar logo o que vem a cabeça não pode ser uma atitude de
pessoas que estão à frente de instituições pois suas palavras, mal (ou
bem) interpretadas, podem gerar infelizes consequências. O caso do
arcebispo vem repercutindo no mundo inteiro, como se o estupro não
devesse ser um crime tão hediondo como de fato o é.
O caso da menina de nove anos, que foi estuprada pelo ex-padrasto e, grávida de gêmeos, passou por uma cirurgia para interromper a gravidez, provocou toda esta polêmica. Ele afirmou que tal ato gerou a excomunhão automática para a menina, a mãe da mesma, e os médicos que fizeram o procedimento cirúrgico. E para deixar a situação mais absurda, que seria até cômica se não fosse trágica, o arcebispo disse que o acusado do estupro, o padrasto da menina, não deve ser excomungado. Nem mesmo por ter confessado que também abusa sexualmente da irmã da menina, que é doente mental, há mais de três anos. Acho que já está passando da hora de serem revistas as leis do nosso país e as posições da igreja católica. E que homens públicos pensem muito antes de irem para a frente de holofotes e microfones.
João Direnna é psicólogo e jornalista