Quanto à Justiça, só após a instauração da CPI, descobre que precisa ser modificada. Existe unanimidade nacional de que precisa ser célere. Damásio de Jesus informou que na Alemanha, com menos da metade da população brasileira, existem 32 mil juizes; no Brasil, 12. Não precisa ser matemático para deduzir que ou a Alemanha não precisaria de tantos ou o Brasil precisaria quintuplicar, no mínimo, o seu quadro de magistrados, para prestar um serviço no mesmo nível dos germanos. A Justiça do Trabalho, que o corporativismo tenta dizer que é a única alcançada pelos pobres, marca a primeira audiência para dois anos depois. Já na área da segurança a coisa ainda é pior. As guerras chocam por matar 6 a 10 mil. No Rio e em São Paulo mata-se três, quatro vezes mais do que qualquer guerra. A resposta das autoridades é que as "medidas estão sendo tomadas". Isso seria apavorante: saber que todas as medidas são tomadas na mesma proporção que aumentam os homicídios. Roubo a carros, a cargas e a bancos é uma rotina, que nem sequer choca a mais ninguém.
Como os problemas se correlacionam, as escolas dependem da segurança pública em geral e de algumas medidas especiais. Em São Paulo virou moda matar alunos. A cada dia uma criança morre numa escola. E a justificativa, aceita natural e absurdamente pela sociedade, seria o envolvimento com drogas. Basta ser viciado ou ter alguma ligação com drogas para justificar a absolvição do assassino.
Na Saúde, o mesmo "Jornal Nacional" que aponta médicos escolhendo as crianças que morrem num estado, mostra desperdício de inúmeras toneladas de remédio noutro. O governo federal ainda paga alguns milhares de reais para a incineração. Solução: um inquérito, que ninguém acredita que dê em nada para investigar os responsáveis. Só na Administração Pública brasileira precisa de inquérito para investigar negligência no desperdício de milhares de toneladas de remédio.
Sobre as já conhecidas e "assassinas" enchentes - morre gente todo ano, sem existir culpado; todo ano são apontadas as soluções. No fim dos anos noventas, num programa da TV Cultura, o secretário de Recursos Híbridos/SP apontava a construção de mais de cem "piscinões" na extensão dos rios que cortam a capital como única solução. Perguntado sobre quantos estavam sendo construídos, a resposta, um. Mas, menosprezando o mais rudimentar estágio da inteligência humana, disse que já melhoraria bastante. Sem comentário.
Mais de trezentos mil mandados de prisão não cumpridos. Isso quer dizer que temos uma cidade de Feira de Santana de estupradores, traficantes, latrocidas e outros condenados nas ruas. A solução apontada por alguns seria o trabalho remunerado para os presos. Uma chance única de receber algum salário, um convite à prática de crime pelos milhões de desempregados que estão passando fome e sem perspectiva de qualquer remuneração.
Não cabe comentário sobre o sistema financeiro. Primeiro, porque as previsões dos economistas já são um espetáculo em si. Ou dizem que já passou o prazo para uma medida ou deverá ser tomada futuramente. No momento da previsão, nenhum diz o que tem de ser feito. Só justificam que os bilhões de dólares devem ir para os banqueiros para não quebrar o "sistema", como se este tal "sistema" quebrado fizesse diferença para quem está comendo palma misturada com calango no Nordeste. A linguagem extremamente técnica absorve tudo que for dito como a mais absoluta verdade. Nas chamadas crises financeiras, entregam bilhões de dólares aos banqueiros e fazem estardalhaço de que vão buscar migalhas de corruptos no exterior.
Existem fatos que devem ser reprovados por todos. O sumiço de milhões não pode ter ideologia que o defenda. Só num País de administradores cínicos e irresponsáveis ocorre isso!
Para fazer o que foi feito até agora, basta ser um tremendo cara-de-pau e viajar muito, vendo o Brasil de fora. Aqui, alguém precisa ter a coragem de ao menos questionar quando e quanto se vai gastar; e de onde viria o dinheiro para equacionar esses problemas relevantes. E dizer que não há solução enquanto se construir um (um!), quando só cem piscinões resolveriam o problema. Ou ainda enquanto for preciso gastar tempo, papel e mais dinheiro público para fingir de investigar, através de sindicâncias internas, se houve negligência no desperdício de toneladas de remédio; ou para provar o sumiço de míseros bilhões de dólares. Um basta a essa desordem tem que vir a qualquer preço!
Pedro Cardoso da Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito