A terceira é a grande descrença e pessimismo que assola o mundo e Barak Obama está sendo considerado como um dos poucos homens capazes de superar os problemas deste mundo, gerando uma onda de esperança e de otimismo impressionantes. Talvez se estivéssemos na Roma antiga ele poderia ser considerado como uma espécie de César dos césares, um homem com tenacidade, hombridade e honestidade suficiente para enfrentar os problemas da fome da África, da guerra no oriente médio e dos problemas sociais do seu próprio país.
Enfim, Obama tem se prestado ao papel que a grande mídia escolheu fazer dele. Transformou-se numa espécie de Messias, de salvador do mundo, de portador da esperança em dias melhores. Aliás, este e o trabalho de grande mídia: transformar pessoas em mitos, dar sentido às coisas inócuas e, sobretudo desviar a atenção daquilo que realmente tem importância. Portanto Obama foi eleito pela mídia como o homem encarregado de transformar este mundo embevecendo a população com projetos de paz, de recuperação econômica, de respeito aos direitos humanos, dentre outros. Qualquer semelhança com o projeto de Roosevelt na década de 30 talvez não seja mera coincidência.
Mas o cerne da questão mais uma vez não é tocado. Ou seja: o mundo não precisa ser mudado. Os cristãos acreditam que Deus criou o mundo em sete dias e o fez de forma perfeita. Então o mundo é perfeito! A imperfeição é fruto de uma sociedade constituída por homens e mulheres e organizada em modo tal que não permite que as relações sociais sejam pacíficas, humanas e dignas. É isto que precisa ser mudado. São os valores que defendemos, assentados na exploração do trabalho alheio, na riqueza de poucos e na pobreza de muitos, na intolerância religiosa, racial, étnica, sexual que precisa e clama por mudanças.
O que está sendo comemorado como motivo de orgulho para o mundo deveria representar vergonha para todos nós. Porque nos orgulharmos de, em pleno século 21, permitir a chegada de um homem negro na presidência de um país que trata os negros como seres inferiores, um país que considera os povos dos países pobres como "animais" indignos de entrarem na sua casa, que alimenta guerras sangrentas e infundadas e relega seus pobres a mendigarem nas filas da assistência social, que coloca o poder e a ganância acima da vida e fomenta uma indústria bélica para manter os bons índices do PIB? Um país com estas características não pode comemorar ou esperar que alguma coisa mude com a posse de um homem de cor negra. Afinal, não é a cor da pele que muda a sociedade, nem o sexo das pessoas.
O que faz o mundo mudar é a consciência de toda uma sociedade de que os valores que defendemos são egoístas e mesquinhos, é a consciência de que uma outra sociedade precisa ser construída, em que o trabalho não possa ser constituído como elemento de riqueza de uns em detrimento da pobreza de milhares, onde o fato de uma pessoa ser negra ou branca, homem ou mulher, americano, africano, europeu ou asiático, cristão ou ateu, não faça a menor diferença.
Mas enquanto persistir esta sociedade não haverá Barak Obama e nenhum outro que conseguirá mudar esta realidade. É por isto que a grande mídia vai construindo seus mitos virtuais cotidianamente, para impedir que a consciência dos homens se eleve e possa soltar os grilhões que os mantêm presos, evitando, desta forma, a verdadeira transformação social, onde a liberdade, o respeito e a vida sejam valores concretos e permitam o desabrochar de sujeitos sociais pensantes, verdadeiros ícones da história e que não carecem de mitos virtuais.
Ednéia Alves de Oliveira
(assistente social – professora universitária)