A fim de analisar o assunto, é possível recorrer à comparação entre os nossos antepassados e a população atual. Sabe-se que o Homo sapiens sapiens, chamado de Cro-Magnon, datado de 35.000 anos atrás, possuía características até hoje em nós existentes, tais como capacidade de raciocínio abstrato e linguagem. São interessantes os achados desta época, a exemplo das muitas pinturas rupestres nas cavernas e, particularmente, do mamute de 4 cm de altura e 7,5 gramas de peso, esculpido em marfim, guardado na Universidade de Tübingen, na Alemanha. É claro que houve transformação entre uma época e outra. Todavia, a mudança se deu extremamente lenta. Ela não beneficiou devidamente, por exemplo, a escolarização das emoções e tampouco primou pela introjeção da ética. As sociedades contemporâneas sofrem em demasia por tal descuido. Em incontáveis ocasiões, os descontrolados comportamentos revelam o longínquo passado tão presente em nós. O homem primitivo, nas palavras de Freud, sobrevive potencialmente em cada indivíduo. Não obstante, uma coisa é ignorar, outra é desdenhar. O que se pode fazer a respeito de uma premente e ágil melhora em favor do desenvolvimento humano?
Não há mágica, e o tempo se imporá inevitavelmente, causando a frustrante sensação de que há pouco remédio para tamanho diagnóstico. No entanto, é possível obter ganhos valiosos, desde que o projeto inspire a missão de empreendê-lo cuidadosa e dedicadamente. O processo de transformação é moroso e se dá através da boa educação que contemple, dentre outros fatores, o estímulo à reflexão e ao autoconhecimento – especialmente a autocrítica de se perceber exageradamente atrasado no gráfico evolucional - para que, em razão do desconforto que se segue, a pessoa decida modificar-se, pois, do contrário, no estado acomodado, ela será negligente e inconsequente para com o seu próprio adiantamento. Cumpre alertar a respeito das artimanhas do autoengano, rapidamente acionado pelo sofrido ego que não admite entrar em contato com as próprias deficiências, proporcionando ao seu autor a boa sensação de que se é evoluído, até melhor do que tantos outros. Porém, cuidado: é puro blefe, desespero que corre às cegas nos subterrâneos do psiquismo!
O hábito da autoavaliação das insuficiências permite ao homem enxergar mais acerca de si mesmo e entender que não deve reduzir as passadas que buscam o desenvolvimento, o qual, infelizmente, ainda não foi compreendido à altura do benefício que pode oferecer, pois só experimenta o doce gosto da evolução quem se dissocia, em boa conta, da amarga taça da autoilusão.
*Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo (CRP 06/69637), diretor da Self Consultoria em Gestão de Pessoas, professor e mestre em Liderança pela Unisa Business School. Co-autor dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes da Liderança e Educação 2006. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.