Espelhe-se em nosso guru presidencial: tem vida boa, pega onda e faz caça submarina em Fernando de Noronha à nossa custa, e, para seu regalo, já tem algumas prebendas vitalícias garantidas, e tudo isso sem ter precisado fazer muito esforço ou queimado pestanas em elucubrações mil.
E a gente começa a questionar: para que estudar tanto - neste País de nove dedos políticos -, concluir curso superior, pós-graduação etc, etc se outros conseguem status social e financeiro na moleza, e não há emprego para a maioria ou quando encontra é mal-remunerado? É claro que existem pessoas bem-sucedidas, mas são exceções dentro do contexto nacional.
E o nosso bem abonado presidente da República, que nunca teve preocupação com estudo, parece que não conhece a realidade brasileira (falta de grana) e manda a vassalagem gastar para esquentar a economia. Só que ele não empresta o seu cartão corporativo para a plebe passear, por exemplo, na paradisíaca Ilha de Fernando de Noronha. Mas abre a boca de vez em quando para tecer comentários inadequados. Vejam, abaixo, a declaração da médica Marise Valéria Santos, publicada no jornal Diarinho, de Balneário Camboriú (SC), em 7 de janeiro último, sob título Médica diz que ganha pouco e dá pau no Lula:
"Não lhe chamo de "doutor" porque isso você não o é, muito menos de presidente porque não tenho obrigação nenhuma de chamar de algum título um boa-vida, cachaceiro, ignorante, amoral, ladrão e desmemoriado. Sabe, Luiz, tal como você, também sou de origem humilde. Minha mãe lavou muita roupa e fez muito crochê para me criar, depois minhas irmãs cresceram e foram ser tecelãs numa indústria em Bauru...
Estudamos em escola pública, naquele tempo nem calçado tinha, ganhava roupas usadas e me sentia uma rainha.
Com muito custo, estudamos, Luiz Inácio! Desde 5 anos eu já ajudava em casa para minhas irmãs trabalharem e minha mãe também. Com 12 anos, comecei a trabalhar fora; doméstica, depois metalúrgica, até que terminei meu colégio e ingressei numa universidade pública.
Luiz Inácio, nunca fiz cursinho, nunca fui incentivada; levantava às 4 e ia dormir uma da manhã; tomava vários ônibus; caminhei muito, comia pouco, vivia para os estudos e, engraçado, nunca perdi um ano, nunca perdi uma aula e, graças a Deus, em 1983 me formei em Medicina. Especializei-me, me casei e junto com meu marido luto para dar o melhor para as minhas filhas.
Hoje sou preceptora em uma Universidade, ganho tão pouco que é uma vergonha ser médico nesse País... Depois que você quis brincar de presidente, as coisas pioraram ainda mais, mas o que se há de fazer?
Agora, vem cá: você é pobre e não teve condição de estudar? Não me engana com esse "rosário"... Mas não mesmo... Sua mãe era analfabeta? Empatamos; a minha também. Eu ensinei a ela conforme ia me alfabetizando até aparecer o Mobral - desculpinha esfarrapada essa sua, hein? Eu engoli você esses quatro anos, com suas gafes, seus roubos (e como sei de coisas... conheço o Palocci)... E sempre fiquei na minha, quieta... porque é um direito seu... Mas hoje, ao ligar a televisão e ver você, hipocritamente, chamar a todos brasileiros de burros e incompetentes, lamento, mas foi a gota d'água! Não julgue os outros por você... Não me compare à sua laia... Sou apolítica, mas sou brasileira e em momento algum o senhor fez por merecer todo carinho que essa gente lhe dá.
Luiz Inácio, falar que o "povo brasileiro não teve inteligência suficiente para decidir a eleição", creia, foi a pior frase que você poderia ter dito... Posso até concordar que 48% não tiveram inteligência porque vivem na ignorância, na mesma que você julga que o povo brasileiro tem. Eu só espero que essa sua frase, dita num sorriso de quem já tinha bebido todas, ecoe de Norte ao Sul do País e acorde esse povo que como eu lutou muito para chegar onde está... que como eu, não aguenta mais pagar impostos para o senhor e sua corja gastarem com sabe-se lá o quê.
Foi mal, Luiz Inácio... Muito mal mesmo! - Marise Valéria Santos CRM 77.577), médica".
(Transcrito ipsis litteris)
Julio César Cardoso
Bacharel em Direito e servidor federal aposentado