Em terra de petróleo quem tem água é rei, ou amigo do rei

E o sórdido milagre da multiplicação das águas aconteceu. Não, nada portentoso, nada como aquele realizado pelo Nazareno, que há muito caminhou sobre as águas do Mar da Galiléia. Foi apenas uma ridícula manobra de bombas e válvulas, executada às vésperas das eleições de outubro. Uma manobra eleitoreira, mas um milagre, para quem nunca vê a cor do precioso líquido. Não faltaram fariseus em seus púlpitos, balangando os penduricalhos das vestes, a profetizar sobre a bênção que estava por vir. Água dos céus para todos! Porém, a banda passa e com ela retornam as dores. Tudo voltou a seu lugar, depois que o circo eleitoral passou. Os descarados fariseus desapareceram e a água, milagrosamente presente no período de festa, também. Para onde foi toda ela? Teria voltado aos céus? Ou foi recanalizada ao lugar onde nunca pode faltar, aos palacianos de Herodes? Para tentar entender o porquê de tando desrespeito dos publicanos para com aqueles que pagam os seus salários, aí vai uma 'parábola' da vida real:

Em um hospital fluminense, havia dois bisturis elétricos, também conhecidos como 'canetas', e quatro crianças aguardando pela operação. Ora, diante da situação, o médico anestesista informou às mães que apenas duas das crianças seriam operadas, pois o hospital não possuía material suficiente e não haveria tempo hábil para a esterelização das peças de que dispunha. A reação das mães foi furiosa: chamariam a imprensa, caso as cirurgias não acontecessem. O anestesista, irredutível, retornou ao centro cirúrgico. Eis que, pouco tempo depois, um publicano comissionado, lotado na Secretaria de Saúde, invadiu de maneira blasfema, contaminante, aos gritos, a sala de cirurgia: Quem é o anestesista?, perguntou. O médico respondeu: Sou eu, Dr Fulano de Tal, médico concursado e que tem operado neste hospital há décadas. E você, seu merda (sic), quem é? Despois de muito bate-boca, e atingido pela lícita intransigência do médico, o publicano bradou: Pois então eu vou à papelaria comprar as canetas que faltam! 

É claro que a parábola não termina aí. As cirurgias foram efetuadas? A imprensa apareceu? As canetas esferográficas resolveriam o problema? O agregado publicano continua na Secretaria de Saúde? Cada qual que termine a história com sua sabedoria. O que importa, no caso, é que a batalha entre os profissonais públicos concursados, competentes, que levam a sério seu trabalho, parece estar sendo perdida para os publicanos e fariseus incompetentes que entram pelas diversas janelas palacianas do serviço público. Os últimos, que por mais que o queiram nunca chegarão a ser primeiros, quando pressionados dão sempre o seu jeitinho para resolver a situação: fazem chover canivetes, canetas e até multiplicam as águas nas torneiras. Porém, quando não lhes interessa, compete a Deus saber por quais insondáveis caminhos escapam os operados das infecções hospitalares ou por que furos-de-agulhas passam as águas que chegam às bicas.

E a população, que se vê privada de seus direitos, aguarda por um malufeano profeta lunático - atraído pelo bilhão de moedas anuais que alimentam a farra palaciana. Este apontará seu cajado para a terra do petróleo, jurando dela fazer jorrar riquezas, ao impacto do bastão. E, talvez por um milagre, faça brotar a preciosa água, aquela que nunca falta a Herodes e sua corte de bajuladores. Enquanto o portento final, quase apocalíptico, não acontece, os donos de carros-pipa continuam a agradecer aos céus pagãos.

Luiz Faria

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