Vivia para o amor e nele apostava o inquestionável.
Ela se rotulava como desbravadora de mares e florestas
Sentia-se abrigo para todas as invernadas.
Onde havia tempestade ela virava pára-raios, se houvesse muito sol, transformava-se em um Sundown.
Se fizesse frio, virava um Edredom. Atendia a qualquer som, como um Hi-Fi que ampliava os gemidos e os risos.
Andava, caminhava só. Mas não dispensava a companhia desse amor, na lembrança, nem no esquecimento.
Tinha a parceria com as palavras e a poesia e isso bastavam. Achava que administrando o verbal, era a dona dos dicionários e o Google era apenas um acessório de emergência.
Sabia fazer deleites, de leite, carne, frango e peixe. Pegava as azeitonas, milho verde manjericão e alcaparras para adornar os pratos e aguçar o sabor.
Contemplava as estrelas, as guardava por um dia, e as entregava ao seu amor a cada anoitecer, fabricava luz sem ter que pagar conta.
Escondia presentes embaixo dos travesseiros, colava recados na porta da geladeira, escrevia bilhetes e os escondia no freezer, para que seus desejos inomináveis se congelassem, até que os Frost-free fossem inventados.
Quando driblava a timidez, arriscava escrever com batom no espelho do motel, aproveitava a "embacês" provocada pelo vapor no banheiro para desenhar um coração, fazia do espelho, ou do box, uma árvore plantada no parque, com direito a desenhar a flecha fatídica que transfixiava o coração que abrigava seus nomes.
Cuidava permanentemente do seu amor, do amor que havia depositado em alguém , sem perder de vista os dividendos. Dava muito e queria receber mais ainda.
Foi assim que ela perdeu, perdeu um grande (?) amor.