Já é uma tradição: Esquecemos dele o ano inteiro, só o relembrando em dezembro, às vésperas do Natal. Aí, talvez, resida o problema. Porque somente no Natal é que dEle nos recordamos? Sim! Porque somente no Natal?
Ele nos esqueceu? Ou fomos nós que nos esquecemos dEle? Dele nos esquecemos durante as quatro estações o ano, só o desenterrando às portas do verão; em "sua homenagem", somente no Natal cobrimos nossas casas com centenas, milhares de luzes ornamentais (do Paraguai, muitas delas), somente nessa ocasião, buscamos ser mais "bonzinhos" com o próximo, típico artifício do menino que quer ganhar presentes dos pais. Nos dia 25 de dezembro nos lembramos dEle, no dia 26 já o esquecemos, afoitos para as festas do Réveillon. Ah! Já abrimos os presentes mesmo...
Chega a ser hilário: São milhares a vestir as suas cores, ás vésperas do Natal. Infestam as ruas, abraçam velhinhos, distribuem doces, esmolas, sorrisos, encantos. As ruas, as lojas, as esquinas, os restaurantes, ficam apinhados de gente travestida de vermelho e branco, de gente de esforçando para ser a mais fiel de suas cópias. E gargalham, e brincam com as criancinhas, usando os mais diversos (falsos) adereços. Mas tanto esforço é vergonhosamente inútil, pois não engana o mais simples e mais esperto dos mortais: as crianças. Ah, as crianças... São elas o terror de todo falso bem feitor. Acreditem: elas sabem que nós não somos Ele! Elas sabem! Elas sabem que por debaixo de todo aquele vermelho, de todos aqueles sorrisos, de toda aquela parafernália carnavalesca, nós ainda somos nós. Elas sabem. Como nos é impossível duplicar seu inimitável sorriso, o jeito é chorar...
É Natal meus amigos e a Ele tudo pedimos. E a Ele tão pouco damos. Afinal, quantos de nós ao invés de uma meia ou uma imensa carta a pedir, pedir, pedir, lhe deixou um simples e delicado bilhetinho de agradecimento que fosse? De agradecimento mesmo, pelos inúmeros presentes dados ao longo de todo o ano que passou? Sim, pois comete grave erro quem pensa que somente no Natal ele se lembra de nós. Nos dá presentes todos os dias, a maioria sem que sequer o peçamos. Ah. Os presentes que dele recebemos... Deles nos esquecemos assim que os desembrulhamos e logo passamos a pedir outro, outro, outro mais, já pensando no ano que virá. Afinal, quantos presentes a Ele já ofertamos?
Tem mais: lembram-se das lareiras? Quem se lembra de as manter limpas, firmes e arejadas? Em muitas de nossas casas, nem lareiras temos mais, e elas se tornaram frias, quase sem vida. Sem lareiras em nossas casas, como poderia Ele nos visitar? "Pela porta,ora! Que sujeito mais burro!" dirão alguns. Ele bem que já tentou, mas muitos lhe bateram a porta ao nariz. É. Decididamente não se fazem mais natais como antigamente.
Mas voltando aos esquecidos, como dEle exigir que se lembre de nós, se Dele nos esquecemos todos os dias? Quem sabe se o transformássemos em um símbolo de outras datas festivas e populares? Um resgate de sua memória! Já sei o que muitos me diriam: "Hum.. Papai Noel em pleno sábado de Carnaval? Isso não vai dar certo. O Momo não vai gostar, e temperamental do jeito que é, vai dar confusão. No São João? Ia dar desemprego, um dos dois ia ficar sem trabalhar. Ou então iriam resolver os três (São João,São José e São Pedro) no tapa, para ver quem ia ceder a vaga para o Bom Velhinho. Na Páscoa? Só se trocássemos as renas por coelhinhos voadores. E Coelhinho puxando trenó, ia dar problema até com o IBAMA ou com a Sociedade Protetora dos Animais. Nas festas do Rio ou de Salvador? Pior. Como lembrar de Noel no meio da Sapucaí? Só se for de Noel Rosa. Na avenida atrás dos trio? Ninguém ia sequer olhar para o seu trenó, não competindo com um trio daquele tamanho. Decididamente, não dá! Papai Noel só mesmo no Natal e ponto final!".
É. Pode ser. Mas... cá entre nós: Papai Noel? E quem foi que falou em Papai Noel??? Leia o texto novamente. Eu estava falando... de Jesus.
*Não existem dados precisos que confirmem o nascimento de Jesus exatamente no dia 25 de dezembro. Na Roma Antiga, essa era a data de uma festa pagã, a Festa da Fogueira. Com a adoção do cristianismo como religião oficial do Império Romano no sec. IV, várias datas festivas foram convertidas às datas alusivas ao cristianismo. A maior delas, a da fogueira, foi convertida em homenagem ao personagem símbolo do movimento cristão. Assim nasceu a festa do Natal, no final do mês de dezembro, que passou a ser usada como referência ao nascimento de Jesus. Alguns estudos históricos indicam que Jesus teria nascido não em dezembro, mas possivelmente em maio ou mesmo em junho, seis anos ainda antes do que hoje se credita. O local exato também não é consenso entre todos. Numa gruta? Numa palhoça abandonada? Num estábulo? Em que isso importa?
Outros estudos, estes sim, mais sérios, apontam que a verdadeira data do nascimento do Rabí têm se dado ao longo de inúmeras ocasiões ao longo do tempo, ao redor de todo o mundo. O Cristo, para alguns, nasceu a cerca de 5000 anos atrás; para outros a aproximadamente 2008 anos; Para muitos Ele nasceu a poucos dias, a alguns instantes atrás. Para outros tantos, estes realmente ainda muitos, Ele ainda está por vir...
Na verdade, onde e como nasceu exatamente o luminoso nazareno, se Ele tinha olhos azuis, verdes, negros ou amendoados; se os seus cabelos eram curtos ou longos, docemente ondulados ou crespos, se era sua pele clara ou negra, isso muito pouco nos importa. Mais importante do que quando realmente nasceu a Rosa de Saron, a Estrela da Noite, a Luz da Manhã... é sabermos: Quando é que NÓS nasceremos para o amoroso e amorável... Jesus?
Feliz Natal a todos vocês.
Josafá Santos
Historiador
josafasantos@ yahoo.com. br