O país da bola nem teve tempo para tomar decisões. Acusações, caça a supostos culpados e rotular o treinador de “pé frio” foram as opções mais fáceis, bem como, rasteiras e covardes. O time era forte. Tinha uma defesa que aliava técnica, velocidade e bom posicionamento. Os laterais representavam muito bem o que de melhor havia na posição. O meio era mágico. O ataque respondia bem. Valdir Perez e Serginho eram muito questionados. Os dois haviam conquistado o título nacional com o São Paulo em 77 e estavam bem, entretanto, nos ombros deles e de Cerezo caíram o peso da derrota.
Em 86 foi a França que nos derrotou. Telê estava lá, de novo. E a fama de azarado aumentou ainda mais. Quatro anos depois do fracasso na Espanha, os ídolos se tornariam vilões. Zico e Sócrates foram muito questionados e a geração da técnica e da arte não levantou a taça de campeão.
Após dois fracassos e com um gosto de injustiça na boca, o futebol força deveria nos representar na próxima Copa? Assim foi feito! Sebastião Lazaroni foi chamado e em campos italianos a seleção brasileira jogou algo parecido com futebol e obteve uma desclassificação doída contra os argentinos liderados por um clássico Maradona. A sensação era nítida de que o futebol brasileiro era outro. O país da bola havia contrariado a sua história e vocação.
Hora de repensar e tempo para planejar o que seria do time que já havia encantado o mundo e que parecia ter jogado a fórmula mágica fora. O fim da história já é conhecido. O Brasil foi campeão em 94 e em 2002 e a Itália também buscou mais um caneco. O que intriga na viagem dos sonhos e lembranças do time de 82 até a “nova era Dunga” é como a filosofia de jogo mudou! Como os personagens pioraram! Não desejo bancar o saudosista, desejo reparar injustiças. Lá como cá todos buscavam vitórias. O objeto de desejo do passado era o mesmo de hoje. O estilo é que mudou. Era correta a crucificação de Telê? Zico, que lutou meses e meses para se recuperar da cirurgia no joelho, teve seu esforço esquecido em função daquele pênalti. Foi merecido? Cerezo, ao atravessar aquela bola, deveria ter carregado o fardo pesado que carregou?O tempo respondeu. Telê conquistou o mundo com o São Paulo. Zico ainda seria campeão com o Flamengo e no Japão. Por lá, também, Cerezo foi o melhor - com o mesmo São Paulo de Telê. Percebeu a sutileza da diferença? Percebeu a grandeza dos personagens? Telê, Zico e Cerezo representavam o lúdico, o belo. Sofreram e se recuperaram. Hoje os personagens são Jô, Afonso Alves, Josué e muitos outros. Carregam no peito os títulos que grandes craques conquistaram e percorrem o caminho que mártires percorreram. No entanto, nunca jogariam com os que foram “burros”, vilões e “pernas de pau” no passado.