Pergunte meu Deus?! Pergunte se ela já subiu Santa Tereza de bondinho,
carregando uma tonelada de tristeza dentro d’alma, pra beber cerveja
honesta e contemplar um maravilhoso grupo de Chorinho executando
músicas de Ernesto Nazaré, Pixinguinha, Altamiro Carrilho, Canhoto* e
Jacó do Bandolim? Pergunte meu Deus? Pergunte se ela já chorou de
emoção e contentamento ao escutar tão belas músicas? A gente esquece da
vida e pensa que é eterno... Pergunte!!!? Pergunte se ela conhece
“Cultura Chorística”? Pergunte não...! Eu sei, meu Deusinho, o que ela
vai responder...: “Caraaaca, mané...! Fala séééério...! Isso é coisa
das antiga... Gosto mesmo é de baile funk!”. Eu gosto dela e não gosto
do que ela gosta. Ela gosta de mim e vai ao baile Funk. E eu vou de
bondinho...
Noutro dia eu estava na varanda relendo Hamlet. Ela perguntou: “Quem escreveu este troço...?”. Eu respondi que foi escrito por Shakespeare. Ela indagou: “De que lugar mesmo das Arábia que esse cara é sheik?”. Ela sabe que ‘nas’ Arábia tem sheik... Afirma que Chorinho ‘é coisa das antiga’. Ainda bem que não falei que Hamlet foi escrito em 1601.
Ela some... Passa dias e dias sem dar notícias. Noutro dia apareceu com duas bolsas de compras e disse. “Truce uma coisa muito boa pra gente comer!”. Era um enorme rabo bovino. Comprara também alguns temperos, batatas e dois amarrados de agrião. Não demorou muito e a casa estava tomada por um aroma raro e apetitoso. Ficou tão gostoso e eu comi tanto que fui obrigado a tomar um efervescente. De noitinha, saiu do banho exalando xampu barato. Olhou-me com um sorriso sacana e ordenou: “Vambora pra cama!”. Prontamente obedeci...
Ela é ma-ra-vi-lho-sa! E me fez feliz. De manhã cedo foi embora. Sumiu novamente. Que importa, Deus, sua origem humilde? Que me importa se não estudou? Ela é autêntica! Super alegre! Jovem e muito bonita. E eu sou triste...! Que saudade...!
* Realmente canhoto, tocava violão sem inverter as cordas. Virtuoso, tirava som das cordas grossas com os dedos mindinho e anelar.