Ao prosseguir o texto diz “E vários outros heróis que deram início à luta pela valorização do povo negro, para que pudéssemos simplesmente ser percebido, como parte essencial da formação da sociedade brasileira”; enfatizou. Ao intitular como novo paradigma (modelo, exemplo) da luta negra, o universitário citou como heróis alguns personagens da nossa História que embora tenham sido negros, no mínimo é controvertido que sejam citados como heróis. Não cabe aqui analisá-los, um a um, por inconveniência de espaço. Até pelo fato das citações de dois líderes negros reconhecidos internacionalmente, o memorável líder dos direitos civis estadunidenses, o reverendo Martin Luther King e o ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela.
O texto do universitário corretamente atribuiu ao legado escravista junto com a omissão do estado brasileiro, a produção do que ele chama de iniqüidades, isto é, as específicas e estratégicas desigualdades étnico-raciais causadas pelo racismo, discriminação e preconceito contra os negros. O texto também é correto ao ter salientado: De cada dez dias da História, sete pertencem ao escravismo no Brasil, país com a 2ª maior população negra do planeta (a Nigéria é o 1º), ressaltando que nosso país foi último a abolir a escravidão negra. Pararam aí os acertos. A partir das propostas ele expôs o equivocado racialismo (ideologia e ou crença fundamentalista na existência de “raças” entre os seres da espécie humana) ao reivindicar equidade e ascensão “raciais” para os negros.
Ao prosseguir o texto afundou-se ainda mais na areia movediça do racialismo “Provoco todos os novos personagens de nossa História que integram a grande família afrodescendente a fazer a diferença através de afroatitudes. Ou seja, a nos organizarmos, nos capacitarmos, a entendermos mais, para enfim vencermos todos os paradigmas da democracia racial, lutando por igualdade de oportunidades, novas perspectivas para a militância étnico-racial da juventude e povo negros no Brasil, defendendo as ações afirmativas e as políticas de promoção de igualdade racial”. De equívoco em equívoco, o texto do universitário chegou à citação do Herói e Mártir Internacional da Consciência Negra, Stephen-Steve Bantu Biko (1946-1977).
Começou por errar a grafia, Stive Bico, ao citar uma das célebres frases “Agora é por nossa conta” proferida por Steve Biko antes dele ser assassinado pelo regime racista da minoria branca Apartheid. De propósito, o universitário não citou a mais célebre das frases proferidas por Biko “Racismo e Capitalismo são os dois lados de uma mesma moeda”. Por sinal, slogan do MNS a partir da fundação em 13/05/2006. Ao continuar, o texto do universitário foi queixoso “Sinto a dificuldade de nos mobilizarmos e organizarmos uma vez que após a abolição, nós negros sofremos dura repressão representada pela escravidão intelectual (sic) e pelas negligências de nossa cor, nosso cabelo, nossa religião e falta de representatividade no poder”; frisou.
Antes de apresentar propostas abstratas como “Um futuro justo de gozo pleno de cidadania até então ignorados, cerceados dos nossos direitos à dignidade, trabalho, alimento, vida social, etc”, o texto do universitário tornou-se fundamentalista ao misturar ideais políticos com sincretismo religioso cristão (Deus) e de matriz africana (Orixás) “Que o espírito imortal de nossas antepassadas e antepassados, que nosso Deus e nossos Orixás possam nos envolver de ações que sejam rompidos os limites da retórica, das declarações solenes, e passem a ser traduzidas e visualizadas por medidas tangíveis, concretas e articuladas, cabendo a nós negros a responsabilidade de criarmos e acompanharmos a efetivação e concretização de novas Leis”; acentuou.
O texto “Afroatitudes: Novo paradigma da luta negra” são formulações que não têm nada de novas. Fazem parte de uma aliança internacional entre militantes racialistas dos movimentos negros com o imperialismo na tentativa de “humanizar” o capitalismo. Tal aliança foi firmada em duas etapas. A 1ª ocorreu na III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata. Este evento foi realizado no ano de 2001 em Durban na África do Sul sob suntuoso patrocínio da Organização das Nações Unidas (ONU). A 2ª etapa foi consolidada no chamado Fórum Social Mundial (FSM) realizado em Nairobi no Quênia, em 2006 quando o racialismo foi unificado através das ações afirmativas.
Desde a fundação o MNS opõe-se a duas dessas ações afirmativas, por se tratarem de paliativos Projetos de Lei (PL) baseados no racialismo, que tramitam no Congresso Nacional. O PL 73/1999 é apelidado de cotas universitárias para negros e indígenas. Por sua vez, o PL 3198/2000 tem a equivocada denominação de “Estatuto da Igualdade Racial (EIR)”. Para tanto, o MNS se uniu a artistas, sindicalistas e os chamados intelectuais, constituindo uma Frente Única (FU) contra os PL 73/1999 e 3198/2000. Tal FU lançou pela editora Civilização Brasileira o livro “Divisões Perigosas – Políticas raciais (racialistas) no Brasil contemporâneo” entregue sob flashes da mídia nacional à presidência da Câmara dos Deputados no dia 30/05/2007.
Por fim, as reivindicações específicas do MNS são: Escolas e Universidades Públicas, Gratuitas e de Excelência na Qualidade para Todos e Todas, Idem a tudo que se relaciona à Saúde Pública incluso os casos sociais de anemia falciforme, Reforma Agrária com titulação de terras aos quilombolas das áreas demarcadas, Pluralidade didático-pedagógica na aplicação da Lei 10.639/2003, Fim da ocupação militar do Haiti pelas tropas da ONU comandadas pela brasileira e um Tribunal Autônomo para o julgar os genocídios que ocorrem em países do continente africano.
*jornalista – é membro da coordenação nacional do MNS.